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24 abril 2020
Texto de Paulo Martins Texto de Paulo Martins

Difícil é recusar

​​​​​​​​​Afluência à Farmácia Salgado cresceu em Março, mas a tentação de açambarcar já passou.

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Foi, literalmente, um vê se te avias, na semana em que, pela primeira vez, o coronavírus deu sinal. Um sinal ténue, é certo, porque não fizera ainda uma única vítima mortal em Portugal – muito menos no Alentejo, que permanece (quase) imune à pandemia. Contudo, a afluência à Farmácia Salgado, em Ferreira do Alentejo, cresceu exponencialmente. Com receio de que as prateleiras ficassem vazias, muitos clientes abasteceram-se em excesso, em alguns casos para seis meses. 

Mesmo perante a evidente tentação de açambarcar, a procura não deixava de ser satisfeita. «É difícil dizer que não», afirma o proprietário e director-técnico, reconhecendo que alguns medicamentos, sobretudo os destinados a doenças crónicas, chegaram a esgotar-se. Por saber de experiência feito, José Salgado tem consciência de que o mais eficaz antídoto para combater apreensões não se vende, mas as farmácias têm de sobra​ para oferecer: chama-se aconchego. Aprendeu também que os balanços só se fazem no final do ano. É «ilusória», diz, a elevada facturação registada em Março. «Tudo o que se gastou agora, não se gasta depois».

Como em tantas outras farmácias, faltam máscaras, desinfectantes, álcool – até a aquisição de luvas é difícil. Ainda assim, a fase mais complexa de gestão já lá vai. A Salgado, onde habitualmente trabalham quatro pessoas, não teve necessidade de fazer adaptações por aí além para enfrentar este período de restrições forçadas. No grupo, o uso de máscara e viseira tornou-se obrigatório e o balcão foi protegido com acrílico. Como só podem manter-se no interior da farmácia dois utentes de cada vez, o atendimento é agora mais moroso. José Salgado admite que, «às vezes, as pessoas cansam-se de esperar».

Não é o caso de António Rodrigues. Há anos fiel à Farmácia Salgado, só encontra elogios para caracterizar o serviço que presta: «Estou muito satisfeito. É uma maravilha! Vale a pena ser cliente daquela farmácia». Diabético de 73 anos, é um doente de risco. Foi dos que bem cedo percebeu que o segredo para sobreviver ao Covid 19 reside no confinamento. «Tem de ser assim. E olhe que as pessoas estão a cumprir! Só saem os que têm de ir para os empregos».

De casa é que ele «não abala», a não ser para necessidades mais elementares, como a compra de medicamentos. Vai num pé e vem noutro, porque não sendo dado a tecnologias, coisa de gerações mais novas, cede ao telemóvel para contactar com a farmácia. «Utilizo os meios de comunicação e depois vou buscar a receita sem problemas. Tenho sido sempre bem tratado». Palavras de António Rodrigues, cuja relação com a Farmácia Salgado é alicerçada em confiança mútua. Tão sólida que mantém uma conta corrente, regularizada quando pode. 

Se de um padrão precisássemos, ele poderia muito bem encarná-lo. É um idoso em terra onde os idosos predominam. Para obviar os constrangimentos criados pela conjuntura, o Centro de Saúde da vila reforçou o sistema de contacto à distância, mas nem todos se entendem com a rendição do papel à prescrição electrónica. «Para nós, também foi mais difícil, porque às vezes há receitas já aviadas ou mensagens que foram apagadas», assinala José Salgado.

De falta de cobertura farmacêutica não podem os residentes em Ferreira do Alentejo queixar-se. A vila dispõe de boa cobertura farmacêutica – três farmácias na sede do concelho; duas em aldeias e, ainda, dois postos, ambos propriedade de José Salgado. Também neste campo ocorreram alterações. Passou a deslocar-se aos postos três vezes por semana, em vez de cinco. Assim reduz a mobilidade, respeitando uma das decisões tomadas em reunião com a Junta de Freguesia. Para que o horizonte da planície alentejana seja o menos possível perturbado pelo vírus.
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