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17 novembro 2021
Texto de Diana Amaral (directora da Revista Farmácia Portuguesa) Texto de Diana Amaral (directora da Revista Farmácia Portuguesa) Fotografia de Ricardo Castelo Fotografia de Ricardo Castelo

Oportunidade

​​A experiência e o saber dos farmacêuticos comunitários ao serviço de todos.

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Nesta edição, o meu colega Berto Cabral, director Regional da Saúde dos Açores, declara que «há momentos em que nós, farmacêuticos, temos de ser consequentes com a nossa formação, para aquilo que estamos capacitados, o que nos compete fazer».

A COVID-19 deu aos farmacêuticos comunitários uma grande oportunidade, que não desperdiçaram, de fazerem a diferença na vida das pessoas e comunidades que servem.

O conhecimento sobre os medicamentos é uma competência dos farmacêuticos absolutamente crítica para a saúde das pessoas e a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Portugal investe 1.000 milhões de euros por ano na comparticipação de fármacos no ambulatório. Mas não investe um cêntimo na promoção da adesão à terapêutica, que é um serviço farmacêutico cada vez mais valorizado no mundo desenvolvido.

Os cidadãos precisam de ajuda para tomar a medicação sem erros ou falhas. Beneficiam muito quando, à saída do hospital, têm acesso a uma consulta farmacêutica para aprenderem, com rigor e detalhe, a integrar a medicação receitada pelos médicos, serviço que já é remunerado pelo Estado no Reino Unido.

Em Portugal, durante a pandemia, a dispensa de proximidade, garantida pelas farmácias comunitárias, melhorou a adesão à terapêutica dos utentes com VIH-sida, hepatites, neoplasias, esclerose múltipla e outras doenças incapacitantes, que antes tinham de ir levantar os seus medicamentos aos hospitais. Os resultados desta experiência, apresentados pela presidente da ANF na Convenção Nacional da Saúde, provam que os cidadãos não ganharam só em conforto, mas também na melhoria da sua saúde.

Os farmacêuticos comunitários já hoje evitam muitos episódios agudos de doença, consultas médicas e despesas com tratamentos desnecessários. Isso mesmo ficou demonstrado na experiência-piloto INspira, na qual 48 farmácias ensinaram mais de 200 pessoas com asma e doença pulmonar obstrutiva crónica a usar correctamente os dispositivos de inalação, popularmente conhecidos como bombas de asma.

O valor da intervenção dos farmacêuticos comunitários é reconhecido pelos médicos, que também beneficiam dela. O pneumologista José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, defende a generalização do acompanhamento farmacêutico daquelas patologias.

O cardiologista Carlos Rabaçal propõe o mesmo no combate à principal causa de morte em Portugal: as doenças cardiovasculares. Em sua opinião, os farmacêuticos comunitários devem actuar na prevenção, detecção e vigilância da hipertensão, diabetes e dislipidemia.

Os farmacêuticos comunitários nunca vão substituir os médicos ou os outros profissionais de saúde, mas antes fazer equipa com eles.

Como alertaram os bastonários da Saúde, a pandemia deixou «milhões de consultas, exames e tratamentos por fazer». Podemos estar à beira de uma pandemia de cancros e outras doenças letais tardiamente detectadas, com o sofrimento humano que isso implica. Os profissionais de saúde especializados no diagnóstico e no tratamento não podem perder tempo com o que pode ser bem resolvido na comunidade.

Os farmacêuticos comunitários estão sempre de porta aberta, sem marcação, prontos a resolver os problemas das pessoas nas terras e nos bairros onde elas vivem. Como lembra Carlos Rabaçal, elas vão muito mais vezes à farmácia do que ao médico.

Enquanto o sistema de saúde desperdiçar a rede de farmácias, estará a acumular custos para o futuro e a condenar os portugueses, sobretudo os mais pobres, a doenças e sofrimentos evitáveis.
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