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9 novembro 2021
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de José Pedro Tomaz Fotografia de José Pedro Tomaz Vídeo de Nuno Santos Vídeo de Nuno Santos

Sorrisos atrás das máscaras

​​​​Na Farmácia Laguna, os utentes são tratados pelo primeiro nome.​

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Júlia e João Martins chegam de braço dado. Há seis anos que a paragem na Farmácia Laguna, para «visitar a doutora», faz parte do passeio do casal, mesmo quando nenhum deles tem receitas para aviar.


Júlia e João Martins passam quase todos os dias na farmácia, para «visitar a doutora»

Com o regresso à normalidade, agarrar no carro para tratar dos afazeres diários tem outro valor. Nos picos da pandemia, quando ficaram fechados em casa, a farmácia foi um apoio sem preço. «Estávamos sozinhos», recorda o utente de 74 anos. «Quando era preciso, iam levar-nos os medicamentos e ofereciam-se para ajudar em tudo». Por isso, João tornou-se um cliente fiel. «Não troco, porque não há outra igual».

Na freguesia vizinha de Vila Cova nasceram, casaram e assentaram. Com o passar do tempo, viram os três filhos voar para a Suíça à procura de uma vida melhor. «Estamos juntos há 54 anos. É uma vida, não é?». Há quem lhes pergunte qual é o segredo. «É preciso três coisas: respeito, educação e amor». 

É outra forma de amor, a toda a comunidade, que guia Maria José Loureiro na sua missão de farmacêutica. «Eu sou uma sonhadora», afirma, sorridente. «E estou sempre a ver o que posso fazer para conseguir dar mais aos meus utentes».

A Farmácia Laguna foi uma das primeiras no país a implementar o serviço de testes rápidos de antigénio (TRAg) à COVID-19. Em Setembro de 2020, contratou um enfermeiro para arrancar com o serviço. Nos primeiros meses, chegou a fazer mais de 200 testes por dia. «Vinha gente de todo o lado, era mesmo uma necessidade». Depois, os farmacêuticos da equipa fizeram formação específica para garantir o serviço. A procura aumentou ainda mais com a comparticipação. Ainda hoje, utentes de todas as idades fazem testes para despistar a doença e regressar à normalidade em segurança.

O serviço de entregas ao domicílio, que estava nos planos desde a abertura, foi uma das primeiras respostas à pandemia. Quando o medo tomou de assalto a vida de todos, as pessoas com doenças crónicas e mais fragilizadas precisavam de ser apoiadas em casa.


Para além dos medicamentos, os serviços farmacêuticos chegam ao domicílio

Para além da dispensa de medicamentos, a farmácia domiciliou vários serviços farmacêuticos, como a administração de injectáveis e a medição de parâmetros bioquímicos. «As pessoas estiveram muito tempo fechadas, explica a directora-técnica. «Para os mais idosos, o simples facto de terem alguém com quem falar era bom».


«Éramos os únicos com quem as pessoas conseguiam tirar as suas dúvidas», recorda Maria José Loureiro

A dificuldade de acesso aos centros de saúde, nos períodos de confinamento, transformou a farmácia num posto de socorro, com os telefones sempre a tocar. «Éramos os únicos com quem as pessoas conseguiam tirar as suas dúvidas», recorda Maria José Loureiro.

A educadora de infância Teresa Castro é utente da Farmácia Laguna desde o primeiro dia. Apesar dos problemas crónicos a obrigarem a ter uma presença assídua na farmácia, é a simpatia da equipa que a traz sempre de volta. «Quando cá entrei adorei a recepção», afirma. «Sinto que somos atendidos como se fôssemos da família».


«Sinto que somos atendidos como se fôssemos da família», afirma Teresa Castro, educadora de infância

A utente de 64 anos conta que, mesmo antes da pandemia, quando um acidente lhe causou fracturas no pulso e no joelho, recebeu a visita dos farmacêuticos em casa para lhe trazerem os produtos de que precisava e explicar como fazer o tratamento. «Este atendimento personalizado e carinhoso traz-nos um aconchego diferente», comenta.

Maria José Loureiro acredita que a proximidade aos utentes é fundamental. A proprietária sublinha que, por vezes, as pessoas não entram na farmácia para fazer uma compra, mas sim para pedir apoio. «Eu sempre gostei muito de ajudar», conta. «E, realmente, nós não estamos aqui para vender, mas para servir os nossos utentes», conclui a farmacêutica.

À hora de almoço é tempo de pôr as entregas em dia. À porta de casa, Raquel Gonçalves aguarda pela entrega dos medicamentos que encomendou de manhã. «Este serviço é, sem dúvida, uma grande mais-valia», garante a magistrada de 48 anos. E recorda como, no final do ano passado, quando suspeitou que as filhas poderiam estar infectadas com COVID-19, a farmácia se disponibilizou de imediato a ir a casa testá-las. 

«Agora começamos a aprender a viver com isto, mas no início havia muito receio», comenta. «Principalmente as pessoas que, como eu, têm os pais idosos a viver na mesma casa». Por isso, Raquel já não dispensa este apoio, e considera indispensável o aconselhamento que a equipa lhe dá aquando da entrega ou até mesmo por telefone. 

Na Farmácia Laguna, os utentes são tratados pelo nome e ninguém sai sem um cumprimento especial. No dia em se celebra o 6.º aniversário da abertura, todos têm direito a uma fatia de bolo e a um miminho. E há até quem passe de propósito para oferecer um ramo de flores e deixar o seu voto de parabéns.

Entre os sorrisos meio escondidos atrás das máscaras ouvem-se palavras de agradecimento. «Mas eu é que agradeço às pessoas pela confiança», remata a proprietária, orgulhosa. «Quando alguém entra pela nossa porta é porque precisa. E nós estamos aqui para ajudar».

 

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