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30 dezembro 2021
Texto de António Pedro Machado (médico de Medicina Interna) Texto de António Pedro Machado (médico de Medicina Interna)

O telemóvel da hipertensão

​​​​​​​​​​​​O MAPA da pressão arterial em 48 horas.​

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​Hipertensão: verdadeira ou falsa?
Quando medimos a pressão arterial nas consultas, ou noutra ocasião qualquer, medimos a tensão naquele momento. Nada mais do que isso.

«Então, a tensão que tenho na consulta não é a mesma que vou manter ao longo do dia? Como é que ela estava antes e como vai estar depois?

Posso ter a tensão normal de dia e alta durante o sono?

Afinal de contas, como é que posso ter a certeza de que a minha tensão é normal?»

A medição da pressão arterial durante 48 horas é feita com um aparelho pouco maior do que um telemóvel que o próprio transporta consigo e mede a tensão a intervalos de uma hora. Este tipo de estudo chama-se avaliação ambulatória. A pessoa move-se com o aparelho que mede e regista os valores da pressão arterial. A este exame dá-se o nome de “Medição Ambulatória da Pressão Arterial” ou simplesmente MAPA.

Qual das medições representa a pressão arterial de uma pessoa? A resposta é incerta: nenhuma e todas. É por isso que se usam os valores médios dos períodos do sono e de actividade para fazer diagnósticos e tomar decisões. Medições isoladas não servem: se a tensão estiver alta, não significa que tenha hipertensão, porque a elevação pode ser causada pelo efeito da bata branca. Se a tensão estiver normal, não é possível excluir a existência de hipertensão durante o sono.

Há uma certeza: a única pressão arterial de risco é a que temos durante o sono. A tensão durante o dia influencia muito pouco o risco e, por isso, não serve para a análise. O diagnóstico de hipertensão verdadeira é feito com base na pressão arterial média durante o sono e na queda da pressão arterial da vigília para o sono (do dia para a noite). Quanto mais baixa for a tensão durante o sono e quanto maior for a queda da tensão da vigília para o sono, menor será o risco de acidentes cardiovasculares, como o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC). Esta é uma das grandes novidades que, provavelmente, desconhecia.
É por estas razões que se está a abandonar a medição da tensão no consultório e a substituí-la pela MAPA de 48 horas, para se fazer o diagnóstico de hipertensão verdadeira.

Medir a tensão no consultório
Os valores em consultório podem ser superiores aos reais devido a uma reacção de alerta (nervosismo) causada pela presença do médico, enfermeiro ou outra pessoa. Daí chamar-se “efeito da bata branca” a esta reacção. Na realidade, quando o seu médico lhe mede a tensão na consulta, está a medir a sua tensão real acrescentada do efeito da bata branca. Por esta razão, as tensões medidas nas consultas são mais altas do que as medidas em casa.

Pode acontecer que a sua tensão apenas esteja elevada quando a mede no consultório, mas normal no resto do dia. Quando assim for, a pessoa não tem uma hipertensão verdadeira.

Nesse caso, não deve ser tratada, porque não tem risco. Se a tensão estiver normal durante o sono, pouco importa se estiver um pouco alta durante o dia.

É por esta razão que o seu médico lhe diz que não se pode fiar nem guiar pelas tensões que lhe mede na consulta e lhe pede para fazer uma MAPA. Como complemento, vai recomendar que meça a tensão em casa ou na sua farmácia.

Onde fazer uma MAPA de 48 horas
A MAPA de 48 horas pode ser feita na maioria das farmácias que têm uma UAH (Unidade de Apoio ao Hipertenso). Provavelmente, a sua farmácia já tem.

Se aceder ao site www.uah.pt, encontra a farmácia mais próxima com serviço de UAH. As farmácias com UAH que fazem a MAPA estão assinaladas a vermelho. As que ainda não têm este serviço têm a cor azul.

A MAPA ainda não é comparticipada, mas não é um exame dispendioso. Se o seu médico ou enfermeiro lhe pedir uma MAPA, ele preencherá uma requisição com várias informações muito úteis para um diagnóstico correcto. Mas pode fazer a MAPA por iniciativa própria. Neste caso, será o seu farmacêutico a fazer a recolha de alguns dados, como a data de nascimento, o peso e a altura, se tem diabetes, se teve algum acidente cardiovascular, se faz tratamento para a hipertensão, entre outros.

A MAPA de 48 horas vai permitir ao seu médico ou enfermeiro confirmar se tem uma hipertensão verdadeira, se está ou não controlada e qual o risco de vir a sofrer um acidente cardiovascular fatal ou não fatal nos próximos cinco anos.

Como posso medir a tensão em casa?
Se o seu médico lhe confirmar que tem hipertensão, tem vantagens em passar a medir a tensão em casa. Para o fazer, deverá adquirir um aparelho na sua farmácia. Há várias marcas e modelos certificados, mas deverá ter em atenção a qualidade da braçadeira e a facilidade de colocação. Os aparelhos que medem a tensão no punho fazem medições menos fiáveis.

O seu farmacêutico vai explicar-lhe como colocar correctamente a braçadeira, fazer as medições durante cinco dias seguidos (três de manhã e três à noite, intervaladas de um a dois minutos) e como registá-las num impresso próprio fornecido pela farmácia.
Não vai necessitar de recorrer ao médico ou enfermeiro no centro de saúde para mostrar o registo das tensões. O seu farmacêutico estará disponível para o atender e ajudar. Com tempo e prática, aprenderá a avaliar se a tensão está normal ou elevada durante o dia.
Quando faz a medição da tensão no domicílio não há o “efeito da bata branca”. Por esta razão, os valores de normalidade devem ser inferiores a 135/85 mmHg nos homens e inferiores a 125/80 nas mulheres.

MAPA nas grávidas
A MAPA está indicada na identificação precoce das grávidas normotensas em risco de hipertensão durante a gravidez, pré-eclâmpsia e complicações fetais, parto prematuro, atraso do crescimento fetal e morte fetal.

Por esta razão, as grávidas podem fazer a MAPA na altura da primeira consulta com o médico assistente, idealmente até à semana 16. Se a MAPA indicar que é uma grávida de alto risco, deverá ser enviada à consulta de obstetrícia do hospital, porque tem indicação para começar a fazer aspirina em baixa dose ao deitar. Para que a aspirina previna aquelas complicações da gravidez, deverá ser iniciada, idealmente, até à semana 17.
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