Maria do Céu Guerra celebra este ano 60 anos como atriz de teatro e representar é o que prefere fazer. «Gosto de encenar, mas às vezes, tenho momentos muito difíceis comigo mesma nos períodos de encenação». A atriz atribui a «crises de insegurança», mais fáceis de gerir na representação do que na direção dos atores. «Quando se está inseguro e se tem de propor ou, às vezes, impor aos outros, vai sair mal», resume.
A construção da peça surge-lhe em sonhos, não é pessoa de criar esquemas em casa, confessa. «Normalmente é de manhã, entre o sonho e a vigília, que me aparecem claramente bocados do trabalho. São momentos absolutamente reveladores». Muitas escolhas vão-se definindo em conjunto com os atores. «Há muita coisa que só percebo quando ouço os atores a falarem os papéis». Também prefere conduzir pouco, só diz «o necessário».
Há sempre momentos «menos alegres ou leves» nas encenações. «Basta que um ator não se sinta muito à vontade com uma direção ou com o trabalho que está a fazer ou reclame mais atenção do que aquela que o diretor lhe pode dar». Esses momentos causam-lhe uma «grande infelicidade». Por isso, Maria do Céu Guerra prefere encenar na Barraca, onde a relação antiga entre as pessoas minimiza as situações de mal-estar. Procura passar a ideia de que a criação teatral é uma «aventura difícil e perigosa» para ambas as partes. «Os atores não estão diante de um mestre, mas de um artista que, como eles, está a arriscar a sua sensibilidade e inteligência. É uma aventura partilhada».