«Às vezes, envio um e-mail só a agradecer», conta-nos Maria Freire, 37 anos, a viver em Évora, mas com os pais, idosos, a resistirem à pandemia «onde mais gostam de estar, na sua casinha», situada na Aldeia Casas Novas de Mares. «É um descanso saber que, a qualquer dia e a qualquer hora, tenho a farmácia para os socorrer ou ajudar», confessa.

«A Aldeia de Pias é a aldeia central do concelho, tem a farmácia, a Casa do Povo, o multibanco… Antes, os meus pais faziam o seu passeio a pé e tratavam de tudo, agora não podem, estão mais isolados», lamenta Maria Freire, explicando assim a importância do serviço prestado pela farmácia: «Sinto que não estão ali tão sozinhos».
Nestas aldeias, as casas contam-se pelos dedos das mãos e a distância entre as aldeias torna-se mais difícil de percorrer para uma população isolada e maioritariamente idosa, mas não só.
«Sou invisual e diabético, por isso, no emprego, mandaram-me para casa logo no início da pandemia. Gosto de estar ocupado, quero muito voltar a trabalhar. Passo os dias em casa e só saio para ir à minha horta», conta Francisco Bexiga, 55 anos, a viver em Casas Novas de Mares com a mãe Gertrudes, de 80 anos, também ela diabética e com historial de problemas cardíacos. Para ambos, a Farmácia Santiago Maior é um amigo precioso.
«Sempre que precisamos, ligamos e conforme a gravidade da situação, alguém da farmácia vem no próprio dia ou no dia destinado», explica o utente.
«Fazemos entregas todos os dias. A freguesia tem sete aldeias, dividimos as viagens um dia para cada aldeia e as pessoas já sabem», explica Silvia Bentes, directora-técnica da Farmácia Santiago Maior, acrescentando que em meados de Março «enviámos um SMS aos utentes a disponibilizar entregas em casa para maiores de 65 anos e ficámos surpreendidos com a grande e imediata adesão das pessoas».

A farmácia atende as populações da Aldeia das Pias, da Venda, dos Marmelos, Orvalhos, Cabeça de Carneiro, Seixo e Casas Novas de Mares.
Com a pandemia de COVID-19 as mudanças na farmácia foram muitas. E urgentes. «Desde o início de Março modificámos a farmácia uma série de vezes. Agora temos um postigo improvisado e uma porta específica para quem pediu a medicação por e-mail ou telefone e vem apenas buscá-la», conta Sílvia Bentes.
Também foi necessário alocar um profissional apenas para o atendimento telefónico. «Especialmente nas primeiras semanas, foi complicado. O atendimento demorava mais tempo. As pessoas não estavam habituadas. Algumas são analfabetas, outras não conseguem ver bem os números da receita», conta a directora-técnica, mostrando-se optimista: «Agora, já não têm tanta dificuldade e muitas já sabem quais são os códigos que precisamos. Está preparado o terreno para que as coisas fluam de outra maneira, mesmo após o COVID-19».