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30 abril 2020
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta

Contagiar com boa-disposição

​​​​​​Em Vendas Novas, é com um sorriso que a Farmácia Ribeiro se mantém ao serviço.

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Celestino Manuel, de 76 anos, e Cida Garcia, de 70, regressaram de uma viagem ao Brasil há algumas semanas e por casa ficaram desde então. Amantes de arte e fotógrafos de profissão, é na segurança das quatros paredes que têm passado o seu tempo, conscientes do risco que acarreta a sua faixa etária, perante um vírus que não escolhe vítimas.

Em casa ocupam o tempo entre leituras, edição de fotografia e nas lidas domésticas. Embora isolados, Celestino e Cida não estão sozinhos. Pelas mãos dos amigos e vizinhos, chega-lhes à porta o peixe fresco e as compras para a semana. Pelas mãos da farmácia, os medicamentos. «Não nos falta nada, desde que não nos falte a saúde».



Celestino é utente da Farmácia Ribeiro há mais de 40 anos: «Vou sempre lá». Em tempos de quarentena, a farmácia vai até casa, levando a medicação e uma dose de esperança. No último mês, já recorreram a este serviço duas vezes. «É um conforto. Somos amigos deles e eles nossos amigos», remata.

No pacato Alentejo, a COVID-19 foi vagarosa na chegada. Talvez por isso, enquanto o Norte e Centro do país batalhavam contra o inimigo invisível, em Vendas Novas (distrito de Évora) a população desconfiava da gravidade deste vírus que só chegava pelas notícias.

O risco tornou-se real quando a farmácia passou a atender ao postigo. A directora-técnica, Andreia Ribeiro, confessa que não foi fácil convencer os utentes mais idosos a ficar em casa: «São pessoas que lutaram na guerra. Não entendiam porque é que não podiam sair quando não havia nada lá fora».



A farmácia tomou medidas desde cedo. Especialista em manipulados, a equipa começou a produzir gel desinfectante, de modo a garantir a capacidade de resposta. As entregas em casa são agora uma realidade diária, principalmente para os doentes crónicos e, por consequência, de risco.

Há ainda utentes que optam por fazer as encomendas por e-mail ou telefone, para que os filhos possam levantá-las directamente na farmácia.

A trabalhar o dia inteiro, em turnos que não se cruzam, a equipa continua a adaptar-se à nova normalidade. Embora incertos em relação ao futuro, os 14 elementos da Farmácia Ribeiro mantêm a boa disposição e a esperança em dias melhores. E isso, garante Andreia, contagia os utentes. «No 25 de Abril celebrámos a dançar uma modinha» - conta a directora-técnica de 36 anos - «não podíamos sair à rua, mas pelo menos festejámos juntos».



Custódio Francisco Gonçalves tem seguido a quarentena à risca. «Estou em casa há um mês e meio», conta o utente de 82 anos. Com a esposa acamada há mais de dois anos, Custódio passa o dia nos afazeres da casa e a cuidar da mulher. Aos domingos, faz a preparação dos comprimidos necessários para a semana.

Todas as semanas, os medicamentos da esposa vêm ter a casa. A encomenda faz-se por telefone e a entrega é rápida. Antes, Custódio chegava a ir à farmácia duas a três vezes por semana – o que, nos dias que correm, seria impensável para um diabético. 

«Só queremos que isto passe», desabafa. Até lá, a televisão, os animais e as tarefas rotineiras mantêm-no entretido. Sempre na companhia dos dois filhos, que embora longe, lhe ligam ao final do dia para conversar.

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