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5 agosto 2025
Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Vídeo de Rodrigo Coutinho Vídeo de Rodrigo Coutinho

O bálsamo de Arceu e o óleo para bronzear

​No passado da Farmácia Carapeta, como noutras farmácias de antigamente, o dia a dia passava por fórmulas, espátulas e frascos reutilizáveis. ​

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​Quando Paulo Jorge Cóias começou a trabalhar na Farmácia Carapeta, em Estremoz, o laboratório ainda era muito relevante. Neste preparavam-se medicamentos manipulados, seguindo antigas receitas farmacêuticas ou por prescrição médica, medindo e misturando ingredientes – o que chegava a ser uma tarefa penosa. 

«Uns por receita, outros sem receita», um dos medicamentos manipulados que recorda era o Bálsamo de Arceu. «Era uma pomada feita à base de uma resina de uma árvore que só existe nas Filipinas, usada para tratar furúnculos e quistos». «Curiosamente», acrescenta Paulo, «penso que eram mais eficazes e atuavam muito mais rapidamente do que os atuais».

Nem todos os produtos eram seguros à luz dos critérios modernos, porém. Era o caso dos bronzeadores preparados ali mesmo na farmácia, numa época em que ainda não existia o conceito de proteção solar. «Eram feitos com tintura de iodo, álcool e óleo de coco. Ficava logo tudo bronzeado. Era automático», conta, entre risos, aludindo à cor que a tintura de iodo, um desinfetante, emprestava à derme.

Os manipulados foram uma das suas primeiras tarefas na farmácia, para onde foi trabalhar com 16 anos. «Fazíamos muitas coisas à base de ácido salicílico», acrescenta. «Às vezes ficavam a doer os pulsos por causa do espatular [trabalho com uma espátula para misturar as várias substâncias]» porque «não podia ficar nem um grãozinho sem ser partido». 

Hernâni Matos, cliente de muitas décadas, recorda outras práticas do passado. «Ainda me lembro, por exemplo, de não haver sacos de plástico», lembra. «Os medicamentos eram embrulhados, meticulosamente, em papel que era atado pelo farmacêutico ou pelo ajudante com fio de carreto. Isto antes da fita gomada».

Nos anos 60, ainda muitos produtos eram vendidos a granel. «Comprava-se ácido bórico para os pés, bicarbonato de sódio para a acidez. A nível de líquidos, o álcool – podíamos trazer um frasco de casa ou a farmácia fornecia –, a água oxigenada, a tintura de iodo, o mercurocromo…».

Com o passar do tempo, os manipulados deram lugar a medicamentos industriais e os frascos reutilizáveis a embalagens descartáveis. Mas para quem viveu esse tempo, ficaram as memórias de um ofício bem mais artesanal.


 
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