Ainda não são 10 horas quando os jovens começam a reunir-se no passeio junto à entrada da Escola Secundária D. Dinis, em Marvila, concelho de Lisboa. Muitos atravessam o portão já com a máscara colocada, quem não tem recebe uma à entrada. Em fila, rapazes e raparigas aguardam a sua vez para aplicar o gel desinfectante estrategicamente colocado junto da portaria. Aos professores e funcionários é ainda medida a febre.
A Primavera brinda os jovens com um sol radioso neste primeiro dia de regresso à escola, após quase dois meses de confinamento, devido à pandemia de COVID-19. As máscaras ocultam o rosto, mas muitos olhares revelam o gosto de estar de volta. Carlos Daniel é um dos 330 jovens que hoje reinicia ali as aulas presenciais. Está a concluir o 12.º ano do curso de Economia. Diz com alegria que voltar à escola é «realmente muito bom». Estava «farto» de ter aulas online em casa e sabe-lhe bem voltar a estar com os colegas e amigos, mesmo mantendo as distâncias de segurança.
O jovem de 19 anos acabou por não estar muito tempo confinado em casa. O trabalho como frente de loja no Pingo Doce habituou-o às medidas de segurança: lavar as mãos com frequência, ter o cuidado de não tocar na cara, retirar a máscara correctamente, tirar a roupa e tomar um banho logo que regressa a casa. Enuncia os procedimentos com convicção e garante que não se sente inseguro. «É uma questão de consciencialização e prevenção. Se tivermos os cuidados necessários, acho que é difícil apanhar a COVID-19», afirma.
A máscara que recebeu à entrada da escola e o gel com que desinfectou as mãos foram oferecidos pelas nove farmácias da freguesia de Marvila que, através da Associação Nacional das Farmácias (ANF), responderam positivamente ao apelo da Junta de Freguesia de Marvila. Carlos Daniel acha a iniciativa «boa e muito precisa». «Para podermos voltar à escola são precisas máscaras, desinfectantes e condições básicas de segurança. As farmácias oferecerem isso à escola é uma mais-valia».
É «um apoio francamente positivo», confirma José Sousa, director do agrupamento constituído por 11 escolas, desde o pré-escolar ao 12.º ano, incluindo cursos nocturnos. Sem o apoio destas farmácias caberia à escola o encargo, ainda que o Ministério da Educação «tenha feito chegar às escolas muito do material necessário». O problema é que o consumo de equipamentos de protecção individual (EPI) nas escolas é muito significativo pelo elevado número de alunos, professores e funcionários que deles precisam diariamente. Ana Pereira, professora de Biologia e coordenadora do ensino secundário, lembra ainda que «muitos destes meninos não terão grande facilidade em renovar as máscaras, por isso este apoio é bem-vindo». É que as máscaras que os jovens recebem dentro da escola vão ajudar a que se mantenham seguros também fora dela.
A Junta de Freguesia de Marvila, de quem partiu o apelo às farmácias, também elogia o apoio dado. Hoje com a entrega de 500 máscaras e 50 litros de gel desinfectante ao Agrupamento de Escolas D. Dinis, mas não só. O apoio das farmácias à comunidade tem-se feito sentir na entrega domiciliária de medicamentos, no facilitar de processos burocráticos e até na forma de pagamento dos medicamentos. «Há uma ligação muito grande entre todas as instituições de Marvila e em particular com as farmácias. As farmácias são fundamentais para o bem-estar da população e têm feito um trabalho extraordinário», garante Joaquim Brito, vogal da junta de freguesia.
Das nove farmácias que participaram nesta doação, três estiveram presentes na reabertura da Escola Secundária D. Dinis. As farmacêuticas estão orgulhosas com a iniciativa conjunta. «Ajudei em tudo o que pude ajudar, pois com um bocadinho de cada um faz-se o muito para todos», diz Margarida Vasconcelos, da Farmácia Bela Vista. Ana Pinto da Silva, da Farmácia Serejo, acrescenta que para os pais é um descanso saber que os filhos vão retomar as aulas em condições de segurança. Também ela tem um filho que recomeça hoje noutra escola de Marvila.
Coube a Isaura Martinho, da Farmácia de Marvila, o papel de articulação entre os vários intervenientes. Confirma que a adesão foi unânime. «Todas as nove farmácias se dão bem e colaboramos nas iniciativas importantes para a freguesia». Na sua opinião, este «pequeno contributo» vai ajudar os jovens de Marvila, às vezes ainda estigmatizados, a sentirem-se confiantes para acabar o ano com distinção. «Temos muitos bons alunos, sai daqui muito boa gente e temos todo o gosto de colaborar com eles».
