Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
14 abril 2020
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa

«É o nosso serviço público»

​​​​​​​​​​​​​A farmácia deixou de cobrar pelo serviço de entregas domiciliárias para apoiar a comunidade.

Tags

Farmácia Lopes (Barroselas)

Nas aldeias minhotas, os mais idosos resguardam-se em casa, à espera de que o tempo ou a Medicina vençam a pandemia do COVID-19. Alguns, mais aguerridos ou inconscientes, continuam a desafiar o destino e «são os filhos que os proíbem de sair de casa», conta a farmacêutica Sara Araújo. Mas são poucos. A maioria tem medo e joga pelo seguro. 

«Vivo o actual momento com um pavor enorme e o maior resguardo possível», conta Maria Alice Castro, ao telefone, enquanto faz uma caminhada com o marido nos terrenos da quinta onde vivem, em Tregosa, a 20 quilómetros de Viana do Castelo. A antiga professora de Educação Física, teme pelo marido, reformado da banca, de 78 anos, que padece de uma fibrilação auricular. Fecharam-se em casa, o turismo rural que têm na quinta está obviamente encerrado e até dispensaram a empregada doméstica de há mais de 20 anos em quem têm confiança total. «Nem para trabalhar no quintal onde tenho hortaliças e fruta. Não quero ninguém a tocar em nada. Tenho medo», diz Maria Alice. Desde a declaração da pandemia só saíram de casa duas vezes para fazer pagamentos no multibanco e nem isso os filhos querem que façam. O portão da quinta só se abre para receber medicamentos e alimentos, que compram em grandes quantidades. Contam com o apoio da Farmácia Lopes, que serve a comunidade envelhecida da vila de Barroselas e arredores. Enviam o receituário por email, recebem os medicamentos no dia seguinte. O pagamento é feito na hora, com o terminal POS. «É óptimo, não estou em contacto com ninguém. É um trabalho fantástico», diz Maria Alice, agradecida.



A Farmácia Lopes faz entregas domiciliárias «desde sempre», explica Sara Araújo. A diferença é que antes era um serviço residual e agora a procura disparou. Por dia, a equipa entrega a dez a 15 famílias. «É um serviço muito importante nesta altura difícil, as pessoas agradecem muito», explica a directora-técnica. Quando começou a crise do COVID-19, a farmácia divulgou o serviço e tornou-o gratuito. Antes cobrava uma comissão para as entregas com preço inferior a 20 euros. «É um serviço público que prestamos», afirma orgulhosa. «Não quisemos restringir o acesso ao serviço, pois queremos incentivar as pessoas a ficarem em casa», justifica. 

A equipa da Farmácia Lopes continua a usar os atendimentos, mesmo através do postigo, para prestar aconselhamento e recomendar o confinamento, em especial às que pertencem aos grupos de risco. Sara Araújo também tem notado maior procura da farmácia para resolver pequenos problemas de saúde. As pessoas, por medo, evitam deslocar-se ao centro de saúde. Mas entre todos os apoios prestados pela farmácia, as entregas domiciliárias são o mais importante, considera a directora-técnica. «É a forma de conseguirmos que pelo menos as pessoas dos grupos de risco não saiam de casa por uma coisa essencial como é a compra da medicação».
 ​
Bernardete Campelo é outra das beneficiárias deste serviço. Tem 83 anos, precisa regularmente de antidepressivos e medicação para a tensão arterial e o colesterol. Mora na aldeia de Poiares, sozinha. Aos domingos costuma almoçar e jantar com os filhos. Agora nem isso. Os filhos continuam a visitá-la, mas não entram, ficam a conversar à varanda. De resto, matam as saudades ao telefone. «Tenho tido muito cuidado», garante. Tem o apoio de duas senhoras, uma passa a noite em sua casa, a outra vai três horas de manhã encarregar-se dos trabalhos que o corpo idoso já não pode. 



Para a medicação conta com a Farmácia Lopes desde que abriu, há 34 anos. Agora não vai lá, telefona e recebe em casa. «Gosto muito da farmácia de Barroselas, são todos muito atenciosos, somos amigos». Abafa a apreensão com a fé que tem em Deus. «Tenho muitíssima consideração pelos profissionais de saúde e tenho pedido muito ao Senhor que lhes dê coragem e força para que consigam tratar os doentes», afirma. Da aldeia de Tregosa, a menos de dez quilómetros, chegam iguais votos: «Dou 100 valores aos profissionais de saúde que estão a ajudar o país neste momento. À farmácia, pelo que me tem feito a mim, aos médicos e enfermeiros, pelo que vejo fazerem. Fazem mais do que aquilo que podem», diz Maria Alice Castro. ​

 

Notícias relacionadas