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9 abril 2020
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa

«É uma enorme responsabilidade»

​A farmácia faz a preparação individualizada da terapêutica de 45 idosos. Os cuidados de higienização são rigorosos. 

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Farmácia Ferreira (Souselo)

Todas as semanas, a Farmácia Ferreira prepara a medicação de parte dos 80 idosos apoiados pela Associação de Solidariedade Social de Souselo. «Sabemos que qualquer pequena falha pode ter um impacto terrível naqueles idosos. É uma enorme responsabilidade», desabafa o proprietário, Ricardo Monteiro. A farmácia reorganizou-se para garantir a máxima segurança na preparação e transporte da medicação em tempo de pandemia. A equipa que prepara e valida a terapêutica usa equipamento de protecção, o espaço de trabalho e as caixas de transporte são «totalmente higienizados».  

«A equipa da farmácia é muito profissional. Confio que os nossos idosos ficam em segurança», diz a enfermeira Ana Santos. Os funcionários do lar receiam ser o veículo de transmissão do vírus para o interior do edifício. Usam equipamentos de protecção e cumprem escrupulosamente o plano de contingência. Actualmente têm todos os materiais necessários, graças à farmácia que forneceu termómetros, máscaras e até 12 fatos completos. 


A Farmácia Ferreira é a única em Souselo, a bonita localidade à beira do rio Douro, a menos de 20 quilómetros de Cinfães. É a «única porta aberta» às necessidades de saúde dos quatro mil habitantes da freguesia e arredores. A extensão de saúde, que funciona no mesmo edifício da farmácia, encerrou por causa do COVID-19. Os médicos foram convocados para a unidade de saúde em Cinfães, onde funciona as urgências. Consultas médicas só ao telefone. As duas clínicas privadas também fecharam. «A farmácia é a única instalação de saúde que não sofreu qualquer alteração no seu horário de funcionamento», diz orgulhoso Ricardo Monteiro. 

A farmácia tem sido, mais ainda que o habitual, procurada para dar aconselhamento em saúde, porque as pessoas têm receio de deslocar-se às urgências, em Cinfães ou em Penafiel, no hospital mais próximo. Nada que aborreça Ricardo Monteiro. O farmacêutico defende que «as farmácias dispõem de capacidade e conhecimento para ir muito além da venda de caixinhas de medicamentos». A sua farmácia presta consultas de nutrição, podologia, acompanhamento a doentes diabéticos e dispõe de dispositivos para avaliar rigorosamente factores de risco cardiovasculares. A Farmácia Ferreira está disponível para novas iniciativas, por exemplo, realizar testes do COVID-19. «Podemos fazê-lo em segurança, sem obrigar os utentes a deslocar-se aos hospitais», assegura.

Logo após a confirmação dos primeiros casos de COVID-19 em Portugal, a farmácia ajustou-se à nova realidade. Chegou mesmo a produzir e enviar a 4000 famílias, via CTT, um folheto apelando à comunidade para privilegiar os contactos via redes sociais, e-mail e telefone. Hoje, quase 30 por cento dos atendimentos são feitos por estes meios. Todos os dias, um membro da equipa passa quase três horas a entregar ao domicílio. «Não cobramos rigorosamente nada, é um apoio à comunidade, para que os utentes não tenham de sair de casa». Nestas andanças, o farmacêutico tem-se deparado com muitos idosos, que vivem «isolados, em lugares lindíssimos, mas de difícil acesso», alguns a viverem em situações de carência económica, a que é impossível ficar indiferente. «O que mais me custa é não poder “tocar” nos utentes, esta distância física que condiciona o contacto emocional e a empatia», diz, emocionado. Agora que muitos estabelecimentos públicos encerraram, a farmácia permite que os utentes utilizem o terminal POS, na farmácia ou no domicílio, para pagarem as suas contas de electricidade, água ou telefone. ​​​​​​​



Ana Morais, 40 anos, está «a levar muito a sério esta situação». Mora em Souselo, saiu de casa pela última vez dia 12 de Março, para ir buscar medicação. Agora, pede para receber em casa. Quando o marido sai para comprar pão toda a roupa dele vai para a máquina e ele vai para o banho. Reconhece que talvez «exagere um bocadinho nos cuidados», o que atribui aos problemas de saúde. Sofre de depressão crónica, crises de pânico e ansiedade. Tem consciência que a sua imunidade está baixa e prefere manter-se em casa. Conta com o apoio da farmácia. «Telefonam a saber se estou bem e preciso de alguma coisa. Tranquiliza-me que se preocupem comigo. São uma equipa fenomenal». 

A Farmácia Ferreira ainda não se ressentiu do impacto económico da pandemia. Ricardo Monteiro espera para ver. Acredita que o COVID-19 veio acelerar novos modelos de negócio, baseados nas tecnologias e nas entregas domiciliárias. «Quem se preparar para os novos desafios, vai ganhar pontos», confia. 
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