Sexta-feira, 15 horas, Sendim. Dona Adelaide, 77 anos, abre a porta a um rosto familiar, já «da casa». A farmacêutica Cândida Viana entrega os medicamentos para a bronquite. Uma doença crónica que deixa todos de sobreaviso, em especial agora com a ameaça do COVID-19. «Tenho colesterol, tensão alta… Coisas da idade! Mas é a bronquite que me preocupa mais», diz. Por isso, a ordem é clara: «Está proibida de ir à farmácia», ouve-se ao lado, assertiva, Cândida Viana.
Ajudar os idosos na recolha dos medicamentos, na toma de injecções ou no esclarecimento de dúvidas já era um hábito na Farmácia de Sendim, mas a gentileza tornou-se regra após as medidas do Governo no combate ao novo coronavírus.
«Saio todos os dias. Ligam-nos, pedem o que precisam e vamos lá. Nunca deixo uma entrega para o dia seguinte», explica Cândida Viana, proprietária da farmácia, que chega a fazer mais de dez quilómetros só para entregar um medicamento, sem cobrar por isso. «Somos a única farmácia em Sendim. A nossa responsabilidade é para com as pessoas da terra e das aldeias limítrofes». Zonas isoladas, rurais, com população envelhecida. Como a vila de Sendim, com cerca de 1.370 habitantes, situada a 25 quilómetros de Miranda do Douro.
Quando surgiu a ameaça do COVID-19 na vida dos portugueses, em Sendim as pessoas tinham algo a seu favor: «A maioria vive sozinha e passa os dias na horta ou com os animais. A regra do isolamento foi algo com que lidaram com relativa tranquilidade», explica Cândida Viana.

Mais difícil foi realizar as mudanças na farmácia. «Como os postigos estão esgotados, tivemos de improvisar. Colocámos umas mesas e o atendimento é feito à porta e por duas pessoas, uma faz a leitura da receita e vai buscar os medicamentos, a outra atende e recebe o dinheiro», diz a farmacêutica, também a braços com a falta de material de protecção individual. Com horário encurtado e desinfecções constantes, Cândida Viana e a sua equipa não têm mãos a medir. «Está a ser muito difícil!», desabafa.
O importante é não parar e Cândida sabe que amanhã será outro dia de luta. Mas, «os utentes ficam tão agradecidos. Às vezes, dão-nos coisas da horta ou feitas por eles como sinal de gratidão. Isso dá-nos força».
É o caso de Dona Adelaide, apaixonada por croché, que retribuiu o gesto de atenção e ofereceu o seu pano favorito, feito pelas próprias mãos, à farmacêutica. «Nunca vou esquecer», confessa Cândida Viana.