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7 abril 2020
Texto de Rita Leça Texto de Rita Leça Fotografia de Direitos reservados Fotografia de Direitos reservados

Gratidão desenhada a croché

​​​​​​​​​Farmácia de Sendim é o único apoio dos habitantes da vila e das aldeias limítrofes. 
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Sexta-feira, 15 horas, Sendim. Dona Adelaide, 77 anos, abre a porta a um rosto familiar, já «da casa». A farmacêutica Cândida Viana entrega os medicamentos para a bronquite. Uma doença crónica que deixa todos de sobreaviso, em especial agora com a ameaça do COVID-19. «Tenho colesterol, tensão alta… Coisas da idade! Mas é a bronquite que me preocupa mais», diz. Por isso, a ordem é clara: «Está proibida de ir à farmácia», ouve-se ao lado, assertiva, Cândida Viana. 

Ajudar os idosos na recolha dos medicamentos, na toma de injecções ou no esclarecimento de dúvidas já era um hábito na Farmácia de Sendim, mas a gentileza tornou-se regra após as medidas do Governo no combate ao novo coronavírus. 

«Saio todos os dias. Ligam-nos, pedem o que precisam e vamos lá. Nunca deixo uma entrega para o dia seguinte», explica Cândida Viana, proprietária da farmácia, que chega a fazer mais de dez​ quilómetros só para entregar um medicamento, sem cobrar por isso. «Somos a única farmácia em​ Sendim. A nossa responsabilidade é para com as pessoas da terra e das aldeias limítrofes». Zonas isoladas, rurais, com população envelhecida. Como a vila de Sendim, com cerca de 1.370 habitantes, situada a 25 quilómetros de Miranda do Douro.

Quando surgiu a ameaça do COVID-19 na vida dos portugueses, em Sendim as pessoas tinham algo a seu favor: «A maioria vive sozinha e passa os dias na horta ou com os animais. A regra do isolamento foi algo com que lidaram com relativa tranquilidade», explica Cândida Viana.​

​​Mais difícil foi realizar as mudanças na farmácia. «Como os postigos estão esgotados, tivemos de improvisar. Colocámos umas mesas e o atendimento é feito à porta e por duas pessoas, uma faz a leitura da receita e vai buscar os medicamentos, a outra atende e recebe o dinheiro», diz a farmacêutica, também a braços com a falta de material de protecção individual. Com horário encurtado e desinfecções constantes, Cândida Viana e a sua equipa não têm mãos a medir. «Está a ser muito difícil!», desabafa.

O importante é não parar e Cândida sabe que amanhã será outro dia de luta. Mas, «os utentes ficam tão agradecidos. Às vezes, dão-nos coisas da horta ou feitas por eles como sinal de gratidão. Isso dá-nos força».  

É o caso de Dona Adelaide, apaixonada por croché, que retribuiu o gesto de atenção e ofereceu o seu pano favorito, feito pelas próprias mãos, à farmacêutica. «Nunca vou esquecer», confessa Cândida Viana.
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