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6 abril 2020
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes

«Cuide-se, menina, que precisamos de si»

​​​Abel Zamora e Maria da Conceição são diabéticos. A insulina chega-lhes a casa pela mão de Lurdes Maia, técnica de farmácia.

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O mal da diabetes chegou sem aviso. Há 20 anos para Maria da Conceição, e há oito para o marido, Abel Zamora. Ela cumpre medicação oral, ele tem de fazer «24 unidades de insulina, todas as noites». 

Não é leve a cruz que carregam. Aos 74 anos, Abel recupera de um cancro no fígado. Já Maria da Conceição pede para que as forças não lhe faltem pois é ela quem cuida do marido.

Vales-lhe um anjo-da-guarda, dizem. «Graças a Deus que temos a Lurdes. Graças a Deus!»

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​​Lurdes Maia, 44 anos, é técnica na Farmácia Albuquerque, em Vinhais, distrito de Bragança e está, por estes dias, na linha da frente no combate à pandemia COVID-19. É pelas mãos desta profissional que o casal – e muitos outros idosos – recebem, no conforto do lar, a medicação que tanto precisam – e não pode faltar.

«É a Lurdes quem nos traz a insulina, ela traz tudo!», diz a antiga professora de primeiro ciclo.

Há já 13 anos que a técnica de farmácia percorre as estradas quase vazias das 104 aldeias do concelho de Vinhais. Com os filhos a morar longe, «um em Braga, e outro em Chaves» e com a saúde a faltar ao marido, Maria da Conceição «nem sabe como seria» sem Lurdes. «Sinto-me protegida porque não tenho de sair de casa», explica.

A trabalhar ao postigo, a Farmácia Albuquerque tem sido a tábua de salvação na terra. Não só para utentes. «Oferecemos máscaras, álcool gel e luvas aos bombeiros, GNR, Centro de Saúde e outras entidades. Eles não tinham nada», explica a directora-técnica, Rita Domingues. 

Para a semana, mais material de protecção será repartido «a bem de todos. Vamos receber 60 caixas e dar uma aos lares», conta a farmacêutica.

As visitas ao domicílio fazem-se, por estes dias, com «todos os cuidados». «Uso luvas, máscaras e desinfectante. Na hora do pagamento e de guardar o troco, desinfecto as mãos aos nossos clientes», relata Lurdes Maia.


​Na aldeia do Vale das Fontes, onde vivem Abel e Maria da Conceição Zamora, todos lhe são gratos. «Quando ando de porta em porta, costumam dizer-me: ‘Graças a Deus que aqui anda!’». Também na hora da despedida trocam-se palavras de estima. «Cuide-se menina que precisamos de si!’». 

Por causa «desta coisa má do vírus», há já muitos dias que Maria da Conceição não sai de casa. Para acalmar o espírito, ocupa-se com as lidas da casa, e vai conversando com a terra «colhendo uns grelos e cuidando das flores».

Católica, tem consolado a fé através das missas que vê agora pela Internet. Tem, diz, rezado «muito». Faz preces a Nossa Senhora de Fátima que «tudo isto passe rápido».

Neste tempo de excepção, Lurdes continuará – como antes – a bater à porta. Maria da Conceição voltará a suspirar de alívio com uma certeza: não está sozinha, nesta luta. 

«A farmácia olha por nós em todas as horas», desabafa.
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