Os museus Judaico e dos Descobrimentos não distam sequer 200 metros. E, no entanto, sendo pilares essenciais da identidade belmontense, estão ainda mais próximos do que a curta distância física indicia. Não é de estranhar, por isso, que constituam dimensões fundamentais da estratégia turística da Câmara de Belmonte.
A valorização do património emergiu no início do século, concebida como instrumento para responder à decadência de indústrias como a das confecções. Hoje, a rede museológica do concelho também cumpre a missão de «alavancar a economia e ajudar os comerciantes», nas palavras de Joaquim Costa, presidente da Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social do Concelho de Belmonte. O aumento do número de visitantes, incluindo judeus de diversas nacionalidades, confirma o acerto da aposta. Todos os anos foram batidos recordes, até aos 139.000 de 2019.
Ao empurrar os espaços museológicos para o ambiente digital, a pandemia da COVID-19 travou a tendência ascendente. Começa agora a fazer-se sentir a recuperação, ainda lenta e predominantemente assente em portugueses. Desde logo, jovens estudantes locais, porque a sua formação, no ensino secundário, incorpora visitas ao Museu dos Descobrimentos.
A atracção de turistas brasileiros não pode deixar de passar pelas geminações entre municípios. Estão em vigor oito, incluindo com as três principais cidades da Costa do Descobrimento, na Baía, historicamente ligadas ao desembarque de Cabral – Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte da Baía. «As geminações não são para ficar no papel. Servem para haver um grande intercâmbio na parte cultural, na parte histórica», afirma Joaquim Costa. A expressão efectiva deste modelo de cooperação, que a pandemia também impediu de ser protocolado com outras cidades do Brasil, está patente na oportunidade oferecida anualmente aos melhores alunos do 9º ano da Escola Secundária Pedro Álvares Cabral de visitarem a Costa do Descobrimento. O percurso contrário será retomado no próximo ano, com jovens de Porto Seguro.
Com o objectivo de desenvolver esta estratégia de aprofundamento de laços, vai ser criado, em breve, um consulado honorário do Brasil em Belmonte, para prestar apoio aos cidadãos do país que residem na região. Segundo o responsável municipal, são mais de 4.000, na faixa entre Viseu e Portalegre. A Universidade da Beira Interior é frequentada por mais de 3.000 estudantes brasileiros.
Sem perder de vista os eixos Pedro Álvares Cabral-judaísmo, Joaquim Costa entende que é necessário diversificar a oferta turística. «A pandemia obrigou-nos a pensar no turista do futuro», diz. A empresa municipal estuda novas rotas, susceptíveis de valorizar a gastronomia, o enoturismo, passeios pedonais. Porque, acredita, os turistas são hoje mais exigentes e mais ligados à natureza e ao meio ambiente.