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29 outubro 2021
Texto de Paulo Martins Texto de Paulo Martins Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira Vídeo de Hugo Costa Vídeo de Hugo Costa

O “esquisito edifício”

​​​​Torre de Centum Cellas: p​risão?​ Albergaria? Villa Romana? Mistério...​

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​Prisão, como parece indicar o nome? Albergaria para descanso dos viajantes, já que se situava próximo da via romana Mérida-Braga? Santuário? Núcleo central de acampamento? Ou villa romana, de que resta parte do edificado? Esta é a hipótese mais consensual, entre as que ao longo dos anos foram sendo formuladas acerca da função da Torre de Centum Cellas, em Colmeal da Torre, no concelho de Belmonte.  

A ausência de indícios históricos capazes de dissipar todas as dúvidas abre janelas à imaginação. Não faltam lendas em torno do monumento, que em 1874 o historiador Pinho Leal, convicto de se tratou de uma atalaia, reedificada por D. Dinis, reconheceu ser um «esquisito edifício». Uma das lendas fixa-se na ideia de presídio com cem celas, onde teria permanecido cativo São Cornélio – daí a antiga designação de Torre de São Cornélio. Outra, imputa a construção a uma mulher, enquanto carregava o filho às costas. Muita gente terá revolvido as terras do espaço circundante em busca do bezerro de ouro, supostamente enterrado junto à entrada principal. 

Referida em documentos como Centocelas, desde o século XII, sabe-se que se situa num território que D. Sancho I cedeu à Sé de Coimbra e a que o bispo D. Pedro concedeu foral em 1194. Sol da pouca dura, já que cinco anos volvidos o rei transferiu para Belmonte o poder municipal.  «É ponto assente que o edifício actualmente visível e conhecido como torre não se encontrava isolado, mas estava inserido num maior e mais complexo conjunto de estruturas. Estas desenvolvem-se a partir da torre, que parece ser o núcleo central de todas as construções», escreveu Helena Frade, em artigo sobre as escavações que realizou, publicado em 1995. 

Técnica do extinto Instituto Português do Património Arquitectónico, arriscou datar a construção de inícios do século I, mas admitiu que um incêndio, em finais do século III, pode ter determinado a reconstrução do conjunto. Não tendo encontrado indícios de um terceiro piso na planta primitiva, hipótese até então muito acarinhada, Helena Frade sustentou que teria apenas rés-do-chão e primeiro andar. Quanto à funcionalidade, que deu origem a diversas interpretações, defendeu a tese de villa, cujo proprietário estaria ligado à exploração de estanho nas minas da região, para além de núcleo de apoio a actividades agrícolas. 

Terá muito para interpretar, o centro interpretativo da Torre de Centum Cellas, que será inaugurado no máximo dentro de seis meses, segundo Joaquim Costa, presidente da Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social do Concelho de Belmonte. Importantes para melhor compreender a origem e natureza das ruínas, são, certamente, os trabalhos arqueológicos de novo em curso. 

Henrique Quelhas, o anfitrião da nossa visita, enfermeiro em três lares de idosos, aponta vestígios dispersos pela área cercada, como presumíveis sepulturas, enquanto atende telefonemas. Embora tenha tirado a tarde para servir de cicerone, não esquece o dever de dar, à distância, indicações sobre a lista de medicamentos para os utentes, adquiridos em Belmonte, porque em Colmeal não há farmácia.

 

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