Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
3 julho 2020
Texto de Sofia Barrocas Texto de Sofia Barrocas Ilustração de Lord Mantraste Ilustração de Lord Mantraste

Vencer o medo em qualquer idade

​​​​​​​​​Como identificar e reagir a riscos para a nossa saúde mental.

Tags
O encerramento em casa durante mais de dois meses e a exposição às notícias pode ter causado problemas de saúde mental. O que fazer? Deixamos pistas por faixas etárias, pela mão de especialistas.

0-10 ANOS 

«Todas as crianças são permeáveis ao medo dos adultos e figuras de referência, e dependentes da forma como estes lidam com o medo e o traduzem nos seus comportamentos», diz Catarina Cordovil, pedopsiquiatra. É importante «os adultos de referência (di)gerirem o seu medo e fazerem-no sem ser com as crianças».

Sinais de alerta 
Primeiros anos: choro inconsolável, dificuldade em adormecer, em comer, em separar-se dos cuidadores, birras difíceis. Quando já falam: medo de estar doente. A criança indicia receios relacionados com o regresso à escola, a novos hábitos, à doença. Pesadelos e dificuldade em adormecer sozinho. Recusa em aproximar-se de pessoas estranhas ao agregado familiar, ir à rua, evitar ser tocada ou tocar em algo que não é seu. Dos zero aos cinco anos, é normal ter medo de pessoas com máscaras. Comportamentos exagerados de lavar as mãos ou pôr gel. Entre os sete e os oito anos, pode intensificar-se o medo da morte. A criança está alerta às conversas e comportamentos à sua volta, e pode querer certificar-se de que todas as medidas são tomadas, de forma inflexível e excessiva, e alertar constantemente para os perigos.

O que fazer 
Apresentar as novas atitudes de forma concreta; experimentar as novas medidas em casa; responder com verdade; respeitar os medos; facilitar a expressão dos medos, de forma oral ou através de brincadeiras; filtrar as informações e traduzi-las. Quando os sintomas persistem e interferem no quotidiano, procurar ajuda especializada.

11-18 ANOS 

«Instalou-se um nível de pânico que leva ao medo em desconfinar», considera Pedro Strecht, médico pedopsiquiatra. «O medo protege, é racional, ajuda-nos. O pânico é desorganizador, e instalou-se em grande parte pelo excesso de informação e imagem. Vai levar tempo a estabelecer bons níveis de confiança, uma dose q.b. entre segurança e confiança (em si e no outro)».

Sinais de alerta 
Ansiedade fóbica, acompanhada de rituais de certificação, perturbações depressivas com as alterações típicas de sono e de alimentação. Tudo e todos são sentidos como potencialmente transmissores e busca-se a impossibilidade de ter cem por cento de certeza de controlo de riscos.

O que fazer
Filtrar a informação, distinguindo o que é normal fazer para que cada qual se sinta protegido, encorajar a retomar rotinas do dia-a-dia,  sair em família, visitar parentes (como os avós), criar um sentimento realista de optimismo no futuro.

19-30 ANOS 

«A crise pandémica e o cenário mundial amplificaram a percepção da vulnerabilidade humana e da imprevisibilidade da vida. O medo continua presente e o futuro afigura-se incerto», diz Susana Costa Ramalho, psicóloga clínica.

Sinais de alerta
Psicológicos: irritabilidade, conflito, ansiedade, apreensão, alterações de humor, dúvida persistente, desorientação, desmotivação. Físicos: falta de energia, cansaço, alterações do sono e/ou no padrão de alimentação, mal-estar geral.

O que fazer 
Aceitar que o incerto e o imprevisível fazem parte da vida, e não devem impedir-nos de continuar; praticar a vivência da incerteza (por exemplo, dar um passeio sem definir o percurso à partida), deixar-se surpreender pelo imprevisto e aprender a lidar com isso; recordar situações que geraram sentimentos de incerteza e foram positivamente ultrapassadas; manter e valorizar rotinas diárias, que ajudam a equilibrar a ansiedade face ao desconhecido; alimentar a esperança de dias melhores, reavaliando prioridades e objectivos, construindo cenários que vão para além do medo.

31-60 ANOS 
«Confinámo-nos num rompimento brutal com a realidade que conhecíamos, houve mudanças sentidas como perdas do que nos é familiar, que geram ansiedade. Como o vírus não foi erradicado, voltar a sair pode ser acompanhado de medo», afirma Susana Barroso, psicóloga clínica.

Sinais de alerta 
Preocupação intensa associada a sair de casa ou recusa em fazê-lo, angústia da morte, perturbações do sono, ansiedade e humor depressivo.

O que fazer 
Se houver um sentimento de mal-estar instalado e persistente, procurar um profissional de saúde especializado.

MAIS DE 60 ANOS 

«Ter medo é natural, o medo controlado é a chamada prudência. As pessoas têm medo de ser infectadas, mas querem voltar ao que existia antes. E a idade não tem de ser um problema para este regresso», diz o médico psiquiatra Coimbra de Matos.

Sinais de alerta 
Ansiedade, quando o medo aumenta; depressão, quando há grandes perdas; stress pós-traumático, quando se vivencia situações agudas.

O que fazer 
«Não há que ter medo de fazermos as nossas vidas, com as cautelas necessárias», diz Coimbra de Matos. «Temos de ter confiança no mundo, nos outros, nas instituições. Conseguir essa confiança é que é mais complicado. Se não a temos, é preciso construí-la, se necessário recorrendo a terapia».
Notícias relacionadas