Visitar os 105 hectares da Mata do Bussaco é encontrar uma grande variedade de actividades. Caminhar pelos trilhos na natureza e descobrir a floresta primitiva, feita de árvores de troncos retorcidos que lembram uma floresta mágica, sobretudo na zona da Cruz Alta. Percorrer a Via Sacra, recriada pelos frades Carmelitas Descalços em 1644, à escala da original, em Jerusalém. A Via Sacra da serra do Bussaco inclui 20 passos (seis da prisão e 14 da paixão de Cristo), com esculturas de terracota da autoria de Costa Mota Sobrinho, datadas de 1939. «Para quem gosta de conjugar a beleza arquitectónica com a beleza natural, o ideal é o trilho da Via Sacra e o trilho da floresta relíquia», sugere Sofia Ferreira, dos Serviços Educativos da Fundação Mata do Bussaco.
O ramo da Ordem dos Carmelitas Descalços que chegou à serra do Bussaco, em 1628, veio de Batuecas, na província de Salamanca (Espanha), atraído pelo isolamento, a natureza e as muitas nascentes de água, fonte de vida. Os frades começaram por construir o convento de Santa Cruz e a cerca para isolar a mata do resto do mundo. A única entrada fazia-se pelas Portas de Coimbra, que têm grande simbologia. Ali se encontram duas bulas papais, de Gregório XV e Urbano VIII. Uma ditava a obrigação dos Carmelitas Descalços de cuidar da natureza e proibia o corte de árvores sem autorização, sob pena de excomunhão. «Foi uma das primeiras leis ambientalistas escritas», nota Sofia Ferreira. A segunda ameaçava com igual castigo as mulheres que se atrevessem a entrar na mata, «para não tentar os monges». As Portas de Coimbra estão ricamente decoradas com pedras brancas e pretas, representando temas ligados à Natureza. A esta técnica dá-se o nome de embrechados. Também no convento se encontra este tipo de decoração, nas portas, na frente do convento e no brasão da Ordem dos Carmelitas Descalços que está patente na portaria. A cortiça, material isolante, pobre e abundante à época, é amplamente usada.
Com a extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, os Carmelitas Descalços passaram a ocupar a mata na condição de arrendatários, até 1860, data em que morre o último frade. Seguem-se 20 anos de remodelação e embelezamento da mata, para receber a burguesia e a corte que vinha passar temporadas no Bussaco Palace Hotel, cuja construção é iniciada em 1888.
É a transformação de uma mata austera numa mata romântica, que em muito faz lembrar Sintra. «É nesta altura que surgem os jardins, o vale dos fetos e dos abetos, os lagos, o embelezamento das fontes dispersas pela mata», explica a bióloga Sofia Ferreira, visivelmente apaixonada pela beleza que a rodeia.
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