Paulo foi o primeiro rapaz a quem Cristina contou que tinha espinha bífida com meningocele, uma malformação no sistema nervoso assim chamada quando também tem as meninges expostas. A história de vida desta mulher é marcada por muitos milagres, mas sobretudo por uma força de vontade de gigante. E também pelo amor.
Cristina até já tinha tido as suas primeiras experiências no campo amoroso. «Mas ninguém sabia da minha doença, sempre o escondi», recorda. «Pensava: se ele souber, vai largar-me. Eram só namoros de adolescente». Até conhecer um rapaz «diferente». «Vou ter de lhe contar porque eu gosto muito dele e acho que ele também gosta muito de mim», pensou. «Se ele gostar mesmo de mim, há- de aceitar-me, não?». Sim. A ponto de, um dia, se tornar o pai das suas duas filhas, Matilde, hoje com 13 anos, e Margarida, com oito.
Explicou ao namorado que fazia algaliação porque o controlo dos esfíncteres era uma das heranças da doença. Questionava-se se o jovem eleito teria vergonha dela por ter os pés tortos. A resposta: «Não tens nada. Para mim, não tens nada». Estão juntos há 20 anos. «Ele sempre me apoiou em tudo, a cem por cento».