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25 maio 2017
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Uma empresa com 57 pessoas

​​​​​​​​​​​Na AEFFUL o associativismo é uma missão.

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«Patrícia, tenho uma tarefa para ti. Estás responsável por recrutar duas pessoas para estarem aqui sábado de manhã. Ai estás cá? Então, já só te falta recrutar uma».

Miguel Santos vai distribuindo trabalho. Tem 21 anos, está no 4.º ano, e este é o seu primeiro mandato na presidência da associação de estudantes (AE), com a qual colabora há três. Faz também parte da comissão de finalistas do seu ano, é membro suplente do Conselho Pedagógico e está a concorrer, como primeiro suplente, ao Conselho Geral da Universidade de Lisboa, órgão de decisão estratégica muito próximo do reitor. «Não me lembro da última vez que jantei com a minha mãe», conta ele. No último mês, passou mais dias fora de Lisboa do que aqueles em que veio à faculdade.


A Direcção da AE tem 21 elementos – e a maioria deles uma agenda assim preenchida. Eram 23, «mas havia muita entropia, pelo que cortámos no número de dirigentes e aumentámos a massa de trabalho, chamando mais gente para integrar os departamentos», expõe o presidente. Por sua vez, a Mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal três membros cada. Tudo somado, a «massa de trabalho» são 57 pessoas, distribuídas por oito departamentos e três gabinetes.

Susana Xavier é das colaboradoras mais antigas. Trabalha na papelaria há 18 anos. «Já me passaram  muitas crianças pelas mãos!», afirma, divertida, com um piscar de olho, claramente desafiando Miguel. Todos os anos tem de se adaptar a uma nova entidade patronal, mas considera esse processo «rejuvenescedor». «Tenho tido a sorte de trabalhar com jovens muito proactivos, sempre cheios de ideias. É bom sentir que fazemos parte destes grupos, de que também tenho sido um pouco educadora», remata Susana Xavier. Tem 38 anos.

A reprografia e o bar Bubar são explorados em parceria com a faculdade. Já as receitas da papelaria e das máquinas de venda automática revertem integralmente para a AE. As quotas, os subsídios institucionais e o produto das «iniciativas próprias» completam a coluna de receitas. Ora, que iniciativas são essas? Acções de formação, torneios desportivos e as festas, obviamente imprescindíveis.

Em 2016, de acordo com o relatório e contas, a AE movimentou 130 mil euros. As instalações da organização custam cinco mil euros por ano em rendas. A ampla sala principal está dividida em dois. Metade para secretárias, algumas das quais ocupadas por gente atarefada. A outra metade por mesas dispostas em largo quadrado, onde as reuniões de Direcção acontecem.

«Olha o Zé! Zé, não te vás embora que tens de vir aqui falar!».

José Pais – Zé, como gosta de ser tratado – e Sara Mateus, ambos com 21 anos, são os vice-presidentes. Apoiam e partilham com o presidente funções nas relações externas, mas a principal componente do seu trabalho é a gestão de equipas. «Somos ambos muito focados na equipa. É muito difícil gerir a motivação de tantas pessoas», afirma o Zé. Há sempre muito trabalho. «Estamos cá sempre. Ontem, por exemplo, saímos de cá à uma da manhã!», refere Sara. Às sextas-feiras, as reuniões de Direcção «são sagradas», ninguém falta. Mas a semana não acaba, pois muitas vezes há actividades ao sábado e domingo.



A AE da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa representa 1.421 alunos. Na opinião do presidente, até «é pequenina». Na Universidade de Lisboa há associações que representam 12 mil estudantes. «Poucos, mas bons. Há quem diga que somos malucos», sorri Miguel Santos. E não é para menos, se considerarmos as permanentes iniciativas em que estão envolvidos.

Cada dirigente é um exemplo desse fervilhar contínuo. Joana Cunha, do Departamento de Inovação e Ciência, acaba de encerrar um workshop sobre técnicas de reprodução medicamente assistida.

Margarida Serra está a organizar «o grande programa de estágios» para os alunos de 3.º e 4.º anos. Sara Mateus acabou de chegar de Alhandra, nos arredores de Lisboa. É lá que decorre um programa de seguimento, em várias escolas, do mesmo grupo de estudantes no 5.º, 7.º e 9.º anos. A AE já participa há cinco anos.



A vice-presidente também está a preparar o Sarau Académico. «É uma coisa em grande: uma gala onde celebramos o nosso aniversário». Este ano, a AE faz 103 anos.

«Gerir isto tudo implica estabelecer um equilíbrio entre a ordem e a importância dos acontecimentos e ter capacidade de adaptação aos imprevistos», afirma o presidente da AE. O stress da vida associativa já se tornou um tema de estudo. Inês Reis, do Departamento de Política Educativa, anda às voltas com o nome a dar a uma acção onde será abordado o impacto das funções dirigentes na vida pessoal e académica. Ficámos com a impressão de que a maioria encara a AE como principal missão – e o hobby parece ser o mestrado integrado.

Na cantina, fora de horas, já não há grande escolha. «Sai um caldo verde com rolo e arroz. E para acompanhar, menina? Só água? Ora bem, e um cafezito para levantar depois.  E o colega da menina, igual?». Na esplanada, entre pratos, Sara queixa-se das lacunas do curso para quem quer seguir Farmácia Comunitária. «Não temos cadeiras de Marketing, não temos Gestão…». Em sua opinião, esse nem é o principal problema, porque os alunos conseguem aceder a formação extracurricular.  «O pior é que, desde que entramos até sairmos, não encontramos professores que estejam também em Farmácia Comunitária – e isso faz-nos falta», considera a vice-presidente.

Miguel Santos anuncia que «vão ser feitas alterações» aos programas curriculares, na sequência de um processo de avaliação conduzido pela A3S, entidade que regula os cursos do ensino superior. «O nosso é hoje muito diferente dos planos das outras faculdades», explica, por sua vez, o Zé. São 103 anos de curso.
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