A história dos bordados de Castelo Branco está, provavelmente, ligada a Inglaterra. Estranho? Ainda que por provar, a teoria defendida pela investigadora Ana Pires faz sentido. É consensualmente aceite a origem asiática dos delicados e coloridos bordados a fio de seda sobre pano de linho, evocando motivos naturais, como pássaros e flores. Ora, é possível que o bordado tenha chegado a Castelo Branco através dos intercâmbios comerciais entre os ingleses e a Beira Baixa, região tradicionalmente produtora de lã. «Ao virem comprar aqui a lã, os ingleses poderiam trazer produtos, como panos estampados, da India e China», avança Fernando Manuel Raposo, assessor da área de Cultura e Educação do município.
No Centro de Interpretação encontram-se exemplares de painéis e colchas, teares tradicionais e a história do ciclo de produção das matérias-primas
Os famosos bordados, certificados desde 2018 e símbolos da cidade, continuam a ser muito apreciados pelos britânicos. A rainha Isabel II foi presenteada com uma colcha, a catedral de Manchester, em Inglaterra, está decorada com painéis que representam as estações do ano. É provável que haja «mais colchas em Inglaterra do que em Portugal», sugere uma das bordadeiras da Oficina-Escola de Bordado de Castelo Branco.
Na Praça de Camões, encontramos o Centro de Interpretação e a Oficina-Escola de Bordado de Castelo Branco
Os ingleses estão entre os maiores compradores desta arte dispendiosa, porque muito trabalhosa, devido à minúcia extrema dos pontos. «Uma colcha pode demorar seis meses a ser terminada, com seis pessoas a trabalhar nela diariamente», explica Lurdes Batista, bordadeira há 34 anos. Há colchas que custam milhares de euros. O município, o principal impulsionador desta arte, tem procurado estratégias para tornar o bordado de Castelo Branco acessível à maioria das pessoas. A diversificação de suportes é uma solução e, além de colchas e painéis, já é possível encontrar este bordado noutros suportes, desde vestuário a pins.
Os temas do bordado de Castelo Branco há muito saltaram dos têxteis para se espalharem por loiça Vista Alegre, azulejos dos prédios e até pela calçada da cidade
No Centro de Interpretação contíguo à oficina encontram-se exemplares antigos e modernos de painéis e colchas, teares tradicionais e a história do ciclo de produção das matérias-primas. Também há peças de vestuário da autoria de designers de moda portugueses, estudantes e jovens licenciados em design de moda, na sequência do concurso lançado pelo município para trazer inovação a esta arte tradicional. Outro projeto é a formação de novas bordadeiras, para garantir que o bordado de Castelo Branco perdura no tempo.