Volta e meia sai-lhe uma expressão espanhola e Ana Brito e Cunha autocensura-se. A culpa é da veia hispânica. Diz que é bilingue e explica porquê. Tinha seis dias de vida quando foi contrabandeada para Espanha, onde passou a primeira infância, até aos seis anos. Conta que a mãe, para se juntar ao pai, atravessou a fronteira, no pós-25 de Abril. Sem que tivesse tido tempo para tratar de registos e documentos da filha recém-nascida, transportou-a escondida, numa cesta de verga, misturada com roupa suja. O amor de Ana às danças flamencas vem desse período, em que muito pequenita tinha aulas com a irmã, assim como o modo de se expressar, porque em casa falava português, mas em tudo o resto a língua era o espanhol, que continuou a estudar, já em Portugal. «A minha base formativa até aos 15 anos é a gramática espanhola. Por isso, dou muito mais “calinadas” em português. Corrijo-me sempre, tento melhorar, mas a verdade é que continuo a pensar em espanhol, falo muito com o meu filho em espanhol e, apesar de não ter bom ouvido para cantar, acho que em espanhol sou afinadíssima. É uma coisa cá minha. [Risos] Costumo dizer que, embora a Marina Mota e o João Baião já o tenham tentado, não canto o fado, mas danço flamenco».
Confessa que pensar em si como alguém ibérico lhe traz uma imensa liberdade. «Não quero que os portugueses se ofendam comigo. Sou portuguesa e amo o meu Portugal, mas apoderei-me um pouco de Espanha e faço gala disso».
A atriz revela ainda ter estado, até se casar, muito focada no mercado espanhol e latino-americano. A prioridade, entretanto, passou a ser a família. «Já não sou solteira, tenho um filho, não posso, de repente, decidir que vou viver um ano para o Chile. Continuo doida pelo Matias Vice e pelo Alfonso Quarón, adorava trabalhar com eles e sei que um dia isso vai acontecer, mas a perspetiva teve de mudar dentro de mim», afirma. Ainda assim, assegura que se apresenta sempre em espanhol nos castings estrangeiros. «Faço as entrevistas em francês, inglês, português, brasileiro, o que for. Mas a minha apresentação, o meu showcase, faço questão que seja sempre em espanhol. E nunca se sabe se, quando o meu filho tiver 20 anos e a vida dele organizada, não posso pensar em mudar-me, com o meu marido, três anos para o Chile!».