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1 maio 2025
Texto de Clínica MIM Texto de Clínica MIM

Ser mãe e ser livre para não o ser

​​​​​A escolha é individual e deve ter em conta a singularidade de cada mulher.​

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Este é um tema complexo e que inclui várias dimensões, tanto individuais como coletivas. Proponho ao leitor que me acompanhe nas próximas linhas, em que, juntos, faremos uma reflexão acerca da decisão de se ser ou não mãe. Os conceitos atuais de família e até mesmo de relação trazem alguma subjetividade ao tema da maternidade, motivo pelo qual devemos ser capazes de pensar no mesmo sem tabus, aumentando a nossa compreensão sobre os direitos reprodutivos e relacionados com a saúde da mulher.

Caracteristicamente, o termo mãe nomeia o vínculo e exercício da função materna. O desejo de se ser ou não ser mãe acontece como uma realidade singular, válida e legítima. Este pode (ou não) surgir em diferentes etapas vitais do percurso da mulher, sendo um ponto nuclear do nosso processo de entendimento como indivíduos. Nem sempre a maternidade é um tema leve, feliz ou fácil, podendo este aspeto ser visto como promotor de angústia.

Cuidar, amar e criar não são qualidades garantidas e exclusivas da natureza feminina. Contudo, a culpa e o medo são sentimentos presentes tanto em quem quer e decide ser mãe, como em quem não quer ser mãe e decide não o ser.

É importante que compreendamos que a maternidade é feita de sombra e de luz. Para muitas mulheres, tem tanto de belo como de assustador.

A convicção e o desejo de ser mãe surgem em simultâneo com a existência de outros sonhos, papéis de vida, relações, objetivos profissionais e financeiros. E, aqui, longe da romantização e idealização da maternidade e da vida moderna, sentimo-nos na antecâmara de uma exaustão, e no medo de não darmos conta e de nos perdermos de nós mesmos, o que pode fazer com que a maternidade seja adiada (ainda que muito desejada).

Por outro lado, para as mulheres que vivem com a certeza de que a maternidade não é um desejo, sonho ou propósito, surge muitas vezes o julgamento social, que tende a colocar em segundo plano e a diminuir tudo o que se é e se vive enquanto pessoa, tornando-o clandestino, como se desprovido de sentido. A este nível, é importante sublinhar: o desejo de ser mãe é tão válido quanto o desejo de não o ser, e cada mulher deve sentir-se livre para optar, em paz e consciência consigo mesma.
Como seria o processo de tomada de decisão para quem está diante da escolha de ser ou não mãe se cuidar da próxima geração fosse uma tarefa plenamente partilhada por homens e mulheres? Esta decisão seria vivida com mais ênfase pelo género feminino, comparativamente à forma como é vivida pelo género masculino, se não fosse a herança histórica do maternalismo que fomentou no imaginário coletivo a ideia de que uma mulher é, por natureza, uma mãe? Até que ponto teríamos medo de não dar conta de ser uma mãe suficientemente boa? Ainda duvidaríamos de um projeto de vida que não contempla ser mãe? Ainda existiria a necessidade de reivindicar esse espaço de liberdade?

É certo que ser mãe é a maior alegria na vida de muitas mulheres, que encontram um novo significado nesta etapa. Contudo, a felicidade e a leveza também podem ser (e são, muitas vezes) encontradas na decisão de não o ser. Esta é uma escolha individual e que deve ser respeitada tendo em conta a individualidade e subjetividade de cada mulher.​
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