Texto de
Vera Vilhena | Coordenadora de ginecologia-obstetrícia, Clínica CUF Barreiro
A consulta de ginecologia tem como objetivo prevenir, diagnosticar e tratar doenças do sistema reprodutor feminino, constituindo uma rotina de extrema importância ao longo da vida da mulher. A primeira consulta deve ser realizada entre os 13 e os 15 anos, podendo ocorrer mais cedo, se existirem queixas ginecológicas.
O constrangimento e receio associados ao exame físico são obstáculos facilmente ultrapassáveis (até porque, nesta primeira consulta, geralmente, não é necessário um exame ginecológico, a menos que existam queixas que o justifiquem). É muito importante estabelecer uma relação de confiança e garantir à jovem a confidencialidade. O objetivo é proporcionar um ambiente livre de julgamentos, e seguro para se sentir confortável em conversar e expor-se fisicamente.
A presença de um acompanhante, geralmente a mãe, pode ser vantajosa no início da consulta, sobretudo para transmitir segurança e alertar acerca de problemas específicos. Posteriormente, deve ser dada oportunidade à adolescente de ficar a sós com o médico, para que se sinta mais confortável na partilha de informação e no esclarecimento de dúvidas.
Na primeira consulta, além da recolha de informações sobre o estado de saúde e histórico de eventuais doenças familiares, geralmente são abordados temas relacionados com a menstruação. A data da última menstruação, a regularidade dos ciclos, a quantidade do fluxo e a presença de dor menstrual são tópicos essenciais da conversa. São igualmente avaliados o desenvolvimento mamário, e o aparecimento e a distribuição dos pelos.
Durante a consulta, a sinceridade é encorajada, especialmente no que diz respeito ao eventual início da vida sexual, a comportamentos de risco e antecedentes de gravidez. Temas como o planeamento familiar e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis fazem parte do aconselhamento em prevenção e são disponibilizadas recomendações sobre estilos de vida saudável.
O exame com espéculo e a palpação bimanual, feita simultaneamente através da vagina e do abdómen, apenas se realizam após o início da vida sexual. Contudo, o plano de vigilância da saúde feminina deve ser adaptado às necessidades e eventuais queixas de cada mulher. É importante desmistificar a ideia de que a observação ginecológica é dolorosa, de forma a evitar nervosismo e tensão, promotores de uma má experiência. A explicação de como será feito o procedimento e qual o objetivo é essencial, para que a adolescente perceba a sua importância e se sinta relaxada e confortável.
Em suma, a primeira consulta de ginecologia deve ser encarada como uma excelente oportunidade para discutir temas e esclarecer mitos na área da saúde da mulher. O médico ginecologista é uma fonte fidedigna de informação, e a existência de privacidade e confidencialidade é crucial para que se estabeleça um diálogo produtivo e sem preconceitos.