O envelhecimento da população é um fenómeno cada vez mais evidente, mas não basta viver mais, é preciso que o acréscimo de anos seja vivido com qualidade. Esse é o desígnio que tem mobilizado esforços de muita gente ligada à Saúde e às ciências sociais. Nesse sentido, foi criado o paradigma do envelhecimento ativo, uma nova forma de encarar a idade, procurando ações que melhorem a vida com a passagem do tempo.
Este novo olhar aponta sobretudo para a interação social dos idosos. Sabe-se que a solidão gera sofrimento e é causa de doenças psicologicamente incapacitantes. A participação social, a convivência com familiares, amigos ou grupos específicos é considerada essencial para o bem-estar emocional, saúde mental e qualidade de vida das pessoas mais velhas.
Se a interação social melhora a saúde e a longevidade, é natural que se pondere a questão da sexualidade nestas faixas etárias, ainda que diferente das anteriores fases do ciclo vital. A perceção das modificações corporais e da redução de eficácia de vários órgãos e sistemas é uma realidade, sendo distinta de pessoa para pessoa pois depende da energia vital e da capa- cidade de adaptação à mudança de cada um.
Existe ainda um outro fator terrível que é o corpo do idoso ser remetido para uma representação na qual sobressai a imagem da doença, que é feia e mete medo. Por isso, evita-se a presença dos idosos, tocá-los e amá-los, esquecendo que a velhice representa a condição futura para as pessoas do presente.
Todo o idoso pode ter momentos de intimidade, com erotismo e prazer sexual, mas é preciso estar disponível para experienciar. Cada vez mais pessoas chegam a uma idade avançada em satisfatórias condições psicofísicas e não estão dispostas a renunciar à vida sexual.
A forma como a publicidade, a comunicação social e a indústria desprezam ou reverenciam a velhice são fatores contraditórios. A publicidade despreza o envelhecimento, ao reforçar o mito da velhice assexuada, em que o modelo de sexualidade estabelecido como “normal” é centrado na juventude, na beleza, no culto do corpo, na consideração do sexo como prazer centrado no coito ou para fins de procriação. Ora, como coexistem fatores culturais e religiosos que consideram o sexo nessa fase da vida como algo sujo e pecaminoso, o imaginário social determina que do idoso só se espera, no máximo, que seja um bom avô ou uma boa avó.
A publicidade e a indústria de entretenimento são, em geral, ambivalentes. Desprezam ou pro- pagam o envelhecimento ativo como um ideal a defender, consoante os produtos que querem vender. Mostram os casais cúmplices na relação, ambientes agradáveis, velas acesas, flores na mesa, momentos de carinho e cuidados recíprocos. Mas mostram casais que nunca interagem sexualmente.
A indústria e a atividade comercial da área da cosmética, da estética, do bem-estar e do anti-envelhecimento reverenciam a velhice, sob um discurso mediático de reinserção dos idosos no espaço social, apelando à prática de exercícios físicos, monitorização do médico, tratamentos cosméticos e cirúrgicos capazes de restituir a longevidade. Tentam também erotizar o corpo do idoso, lembrando que as disfunções sexuais (particularmente as masculinas) podem ser tratáveis.
Uma das contradições do paradigma do envelhecimento ativo é que, à medida que se preocupa em “corrigir” as marcas do tempo, transfere para os idosos a responsabilidade pelo prolongamento das suas vidas. Às vezes, isso só cria uma maior tensão nas conceções de homens e mulheres idosos acerca de sua própria sexualidade.
O envelhecimento é um processo sempre fragilizante. Caso seja necessário, existem abordagens terapêuticas que oferecem modelos para melhorar a intimidade, o prazer, o erotismo, a satisfação sexual e a coesão do casal. Com o desenvolvimento de estratégias que mantenham a autonomia e a independência de quem envelhece, através de recursos de otimização e compensação, é possível desenvolver comportamentos e atitudes que levem a uma melhor resistência e satisfação com a vida.