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14 setembro 2020
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Santiago, Santo André e a sagrada natureza

​​​​​​Conheça os locais mais atractivos do Alentejo Litoral.

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Os pés afundam-se na areia branca. Cada passo exige esforço. Há-de valer a pena: estão 34 graus e o mar azul-turquesa – por aqui habitualmente bravo – está calmo. Neste recanto da Costa Vicentina, Praia da Vacaria (assim lhe chama quem é da terra) ou Praia do Monte Velho, o acesso faz-se com direito a imagem pitoresca: vacas a pastar em campos verdes.

«Alia-se a paisagem do mar ao verde da reserva natural [Lagoa da Sancha]. É uma paragem obrigatória para amantes de pesca», sugere o farmacêutico Miguel Pereira, de 37 anos.

Proprietário da Farmácia Litoral, na cidade de Vila Nova de Santo André, traz no sangue raízes alentejanas. «Como esta é uma zona não tão seca, torna-se apetecível visitar no Verão e no Inverno. Este é um Alentejo vivo!».

De Vila Nova de Santo André a Santiago do Cacém, passando pela aldeia de Melides há muito para ver e fazer, «para além das praias fantásticas» assegura o profissional. Os trilhos e percursos pedestres confirmam a pujança natural da zona.


Em Vila Nova de Santo André, a rede ciclável tem dois metros de largura

Com o complexo industrial de Sines nos anos 1970, a cidade de Vila Nova de Santo André, a 12 km de Santiago do Cacém, foi dormitório para centenas de trabalhadores da plataforma industrial. Ali chegaram, e continuam a chegar, pessoas vindas de Aveiro, Espanha e das antigas colónias portuguesas, como Moçambique e Angola. Hoje, é reconhecida como zona de praia, surf e cidade ciclável com uma extensão de 12,5 quilómetros. Os apaixonados por bicicleta, skate ou trotinetes têm aqui lugar  reservado.

«Santo André é uma cidade jovem, segura e calma. É um sítio excelente para criar uma família », afiança o farmacêutico, pai de Lara, de 14 meses.

A menos de 10 km de distância eleva-se a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha. Um longo areal com um lado de mar (Praia da Costa de Santo André) e outro de lagoa. À volta, casas brancas, pequenas e rústicas.
 
«Há muita diversidade junto à praia. Pode-se fazer observação de aves, canoagem, windsurf ou stand up paddle», destaca.

Assistir à abertura da Lagoa de Santo André ao mar merece vislumbre. A meio de Março, as máquinas afastam as areias, renovam-se as águas e as espécies de peixe. É nela que se desenvolve a iguaria da região: a enguia. Frita, grelhada, em ensopado ou em caldeira. O Festival da Enguia da Lagoa de Santo André já vai na 6.ª edição e atrai visitantes à localidade alentejana.


No concelho de Santiago do Cacém, a enguia é pescada nas águas da Lagoa de Santo André

«As nossas enguias têm fama, lá isso têm! São enguias de água límpida», destaca Carlos Andrade, de 68 anos, proprietário do restaurante Chez Daniel, que abriu portas em 1985, «ainda em cima das dunas».


O farmacêutico Miguel Pereira não se cansa de visitar o Badoca

Neste pedaço de Alentejo, o coração mais destemido deve preparar-se. No parque temático Badoca Safari Park, há aventuras do mundo selvagem. Entre chimpanzés, búfalos e avestruzes, a girafa Kimani, com 4,30 m de altura, desperta as atenções e intimida com o seu porte altivo. «Quanto mais velhas, mais escuras são», explica o tratador, Rui Cunha, 36 anos.

O passeio é feito num jipe e com os animais em habitat natural. «É uma experiência inesquecível. Faz lembrar África, mas está tudo aqui…ao nosso lado», elogia o farmacêutico.


Em Miróbriga, as termas eram constituídas por dois edifícios, um para os homens, o outro para as mulheres

Também de história e património arquitectónico se faz este Alentejo litoral. As ruínas romanas de Miróbriga, na cidade de Santiago do Cacém, revelam a existência de habitantes desde a pré-história.

«Santiago era o cavaleiro das armas cristãs durante a guerra contra os mouros e é por isso que esta terra se chama Santiago», explicava o historiador e antigo ministro da Educação, José Hermano Saraiva, no programa "A Alma e a Gente", na RTP.


De origem árabe, o Castelo de Santiago do Cacém ergue-se numa das colinas da cidade

Os mais curiosos podem conhecer o cavaleiro, que ganhou nome de "o mata mouros", com uma visita à Igreja Matriz, no interior das muralhas do Castelo de Santiago do Cacém.

Implantado no topo da planície e sobranceiro à povoação, o castelo convida a um passeio – romântico ou em família – para apreciar a paisagem e ver o pôr-do-sol.

«Santiago do Cacém tem uma história riquíssima. Quem gosta de cidades com história deve passar por cá, sem dúvida», aconselha Miguel Pereira. Foi nesta cidade que, em 1895, chegou a Portugal o primeiro automóvel.

A despedida de Santiago do Cacém não deve ser feita sem antes provar os doces da cidade, as alcomonias (feitas de pinhão, mel e açúcar) e o bolo de Santiago (à base de amêndoa e chila).

A pouco menos de hora e meia de Lisboa, a aldeia de Melides, no concelho de Grândola e a 20 minutos de carro de Santiago do Cacém, oferece mar, areais extensos, sossego e boa mesa, sejam pratos de peixe, marisco ou carne.


A Fonte dos Olhos, em Melides, foi construída para abastecimento de água à freguesia e lavadouro

«É uma localidade pequena, mas muito gira. Com grande tradição ligada ao mar, aos pescadores, e também ao pão», vinca o farmacêutico. Os primeiros dados conhecidos sobre o passado de Melides remontam ao século XVI. Estância de férias para portugueses e estrangeiros, a aldeia alentejana encanta com as casas brancas e azuis. O estilista francês Christian Louboutin, famoso pelos sapatos com sola vermelha, é um apaixonado pela aldeia.

As praias da Aberta Nova, Galé e Vigia são algumas que merecem paragem. Por aqui, é possível praticar surf e bodyboard durante praticamente quase todo o ano. Também pode optar por passeios de cavalo na praia ou na serra, ou degustação de vinhos.

Um regalo para amantes da natureza, a Lagoa de Melides prolonga-se até à aldeia com o mesmo nome. A riqueza da flora e da fauna garantem actividades como observação de aves, canoagem ou passeios pedestres que levarão a caminhos de dunas, pinhais e arrozais.

E porque Verão é festa, faça-se o brinde. Perfuma-se o copo com casca de laranja e folhas de alecrim, e sai mais um gin. 

«Venham visitar-nos, mas sem pressa», desafia Miguel Ângelo Nunes, criador da Destilaria Gin Black Pig, lembrando que «o Alentejo é património do tempo».
 

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