Na esplanada do restaurante-café Vá-Vá, junto à avenida de Roma, Paulo de Carvalho lembra quem por ali passava, nos tempos em que a madeira escura e os maples de couro dominavam a decoração. Enquanto passeia pelas ruas de Alvalade, o bairro onde viveu entre os três e os 21 anos, pára várias vezes para trocar conversa com pessoas conhecidas.
Na esquina entre a avenida de Roma e a rua António Patrício já não são só os conhecidos que o fazem parar. Fãs, alguns muito jovens, pedem-lhe uma selfie, em frente ao mural com o seu rosto pintado na fachada de um prédio. «Continue, que a gente gosta!», lança uma fã ao homem de voz inconfundível, recordado por uma carreira de êxitos, como “E Depois do Adeus”, “Nini”, “Flor Sem Tempo” ou “Os Meninos de Huambo”.
Paulo de Carvalho nasceu em 1947 na Maternidade Alfredo da Costa, a «fábrica dos bebés, onde nasceu meia Lisboa». Aos três anos deixa a rua da Madalena para «migrar para a Grande Lisboa que se estava a formar». Ainda se lembra de quando o bairro de Alvalade não tinha passeios, da lama no Inverno, das brincadeiras na rua até a mãe o chamar para jantar, carros quase não havia. «Foi aqui que aprendi a crescer. Este é o meu bairro», declara.
Quando fez 14 anos, o mundo alargou-se. Paulo foi trabalhar para uma companhia de seguros junto à Estação do Rossio, «fazia recados». Palmilhou toda a Lisboa, conhece ruas e becos. «Se tivesse de deixar de cantar, podia ser chofer de táxi», diz, rindo.