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11 outubro 2022
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Nos caminhos de Santiago

​​​​Os vestígios de uma rota de peregrinação inscritos num templo com várias vidas.

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A igreja de Santa Maria do Castelo, ou de Nossa Senhora da Anunciação, padroeira da Lourinhã, é o edifício mais antigo do concelho, datado do Séc. XIV. O seu estilo gótico compara-a a outros monumentos de idênticas dimensões, encontrados em Santarém, e julga-se ter sido mandada construir por D. Lourenço Vicente, arcebispo de Braga que, sendo natural da Lourinhã, recebeu do rei D. João I o senhorio da vila. 


Porém, estudos geofísicos recentes, realizados pouco antes da pandemia, vieram comprovar as inúmeras suspeitas de que havia sido erigida sobre um outro templo, mais antigo, cujas fundações românicas, agora descobertas, datam do Séc. XII, altura em que D. Afonso Henriques doou a vila ao cavaleiro francês D. Jordão, que em 1160 ali construiu um castelo e, sabe-se agora, a primeira igreja.

Quer numa quer na outra “vida” do templo, as várias conchas de vieira encontradas, esculpidas no edifício, permitem considerar que este terá servido de local de culto e paragem aos fiéis peregrinos do caminho de Santiago de Compustela. Teresa Faria, professora e historiadora local, diz que o tema carece de estudo mais aprofundado, contudo, faz ver que a rede de caminhos de Santiago, percorridos ao longo de séculos também por outros povos, e que atravessam Portugal de sul para norte, compõe-se igualmente de percursos por mar. Também nestes, as pessoas necessitariam de fazer paragens, tudo indicando que a costa litoral da Lourinhã possa ter sido uma dessas etapas de pernoita. «Temos uma igreja de Santiago no fim de Torres, outra em Óbidos, e na aldeia do Moledo, no concelho, existe um lago de Santiago. Aqui, na igreja, as conchas de vieira, símbolo de Santiago, são bastante notórias, tanto no exterior como na pia batismal, no interior». Mais: por conferir permanece se o busto figurado na porta norte do edifício será “só” um “retrato” do encomendador da mesma, ou se uma representação do próprio santo.


Teresa Faria faz parte dos historiadores que acreditam que as várias conchas de vieira esculpidas na Igreja de Santa Maria do Castelo indicam que aquele terá sido, ao longo de séculos, um local de paragem de peregrinos a Compustela 

Também na heráldica da Lourinhã se encontram símbolos dos peregrinos de Santiago. Naquele que é considerado um dos primeiros brasões da vila, encontra-se representada uma concha de vieira, levando um outro historiador local, Rui Marques Cipriano, a concluir no seu livro, “Lourinhã nos Caminhos de Santiago”, que «a influência de Santiago e dos seus peregrinos no património local está bem presente na vila da Lourinhã, e far-se-á sentir até, pelo menos, aos finais do século XVII».

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A rosácea rendilhada é original do templo mandado construir por D. Lourenço Vicente, no Séc. XIV

De volta a Santa Maria do Castelo, Teresa Faria apont​a aquelas que são, na sua opinião, as marcas mais distintivas da igreja: os capitéis das oito colunas dos arcos que separam as duas alas da igreja, formatada em três naves. «São de uma rara beleza, já a caminhar para o vegetalismo, patente na Batalha. Depois, toda a arquitetura da capela-mor, com motivos mais arcaizantes, mas que não deixa de ter a sua beleza, embora mais simples do que os capitéis, todos diferentes entre si, e do que a rosácea rendilhada da fachada, original, que confere ao templo a sua específica luz interior».

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Detalhe da capela-mor




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