Na manhã de 21 de agosto de 1808, 32 mil almas digladiaram-se no Vimeiro, concelho de Lourinhã. A batalha opôs o exército de 13 mil homens franceses, liderado por Jean Junot, um dos generais emissários de Napoleão a Portugal, aos 19 mil portugueses e ingleses comandados por Sir Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington), que aqui se sagrou vitorioso. Foi o fim da primeira invasão do território nacional pelas tropas napoleónicas que, apesar das duas tentativas sequentes, não voltaram a tomar a capital do país.
Da janela do edifício, olha-se o local onde a batalha aconteceu e adivinha-se uma paisagem densa de vegetação, muito alterada com os anos
Situado no outeiro, no exato ponto em que se deu um dos mais sangrentos confrontos, o Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (CIBV) guarda a memória do embate e ajuda os visitantes a imaginar o curso das ações naquele dia, a começar pela difícil locomoção dos militares franceses, através de densos pinhais e vastas vinhas, hoje inexistentes. A enorme janela na entrada do edifício, mostra uma paisagem ondulante de encostas e vales, pouco propícia à rapidez dos soldados que, além de armas e munições, carregavam às costas a bagagem dos haveres pessoais, necessários ao seu dia a dia. Objetos de higiene, cantil de água, sacola do pão para o “mata-bicho”, mas também espadas, lanças, cutelos… tudo isto se encontra aqui representado através de objetos originais, embora nem sempre encontrados no local. É que, à época, os meios das populações eram escassos, pelo que a maior parte dos pertences de soldados tombados foi recolhida pelo povo e reaproveitada. Há, contudo, uma peça ali achada, que escapou a esta reciclagem para hoje fazer as delícias dos muitos ingleses que aqui vêm propositadamente para visitar o Centro, incluído na Rota Histórica das Linhas de Torres, da Associação de Turismo Militar Português, e na rede dos Itinerários Napoleónicos. Trata-se de uma chapa de identificação, dita chapa da patrona, do inglês Regimento 29, até hoje considerada única na Europa.

O Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro faz parte da Rota Histórica das Linhas de Torres, da Associação de Turismo Militar Português, e da rede dos Itinerários Napoleónicos
De facto, apesar do crescimento do número de franceses, espanhóis, brasileiros e alemães, os ingleses continuam a ser o público estrangeiro mais representativo do Centro de Interpretação. Vêm para celebrar a vitória do seu herói nacional e saber mais sobre algumas das estratégias e meios de combate que aqui ensaiou pela primeira vez. É o caso da até então inédita granada Shrapnel, uma bala de canhão oca, cheia com balas de mosquete e pólvora, e um rastilho, que se acendia no momento do disparo pela boca-de-fogo, fazendo com que a bala explodisse já no ar, e espalhasse o seu conteúdo sob os campos inimigos. A munição terá sido responsável por um tão grande número de mortos, que o local Lagoa de Sangue se inscreveu na toponímia, ao identificar uma região onde uma lagoa de sangue dos muitos vitimados, dando pelos coxins dos cavalos, se terá formado.
A mortífera munição foi decisiva no recuo dos franceses e está hoje representada na bandeira da freguesia e encima o pelourinho mandado erguer por D. Manuel II, por acasião do primeiro centenário da batalha.
A granada Shrapnel encima o pelourinho, mandado edificar por D. Manuel II na celebração do primeiro centenário da batalha
Outro momento de encantamento dos britânicos é o representado por Leonardo Inácio, do Centro de Recriação da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro, que amiúde colabora com o CIBV. Vestido a rigor, com a farda usada pelos portugueses do Regimento 19, encarna um soldado e oferece explicações sobre os procedimentos de carregamento das armas.
A Leonardo, juntam-se no Centro de Recriação outros 30 recriadores de posições militares, mais 20 atores representando a arraia de serviçais, mães, mulheres e filhos que seguiam os militares nas guerras. O conjunto permuta a sua participação em diversos eventos com a participação de outros congéneres na grande recriação histórica da batalha, que no mês de julho catapulta o Vimeiro para um cenário oitocentista.