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14 outubro 2019
Texto de Paulo Cleto Duarte Texto de Paulo Cleto Duarte Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Entre Nós: Mundo

Planos de longo prazo versus orçamentos anuais.

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No Reino Unido, as farmácias foram integradas nas redes de cuidados primários locais. O Governo britânico chegou a acordo com as farmácias para que estas assumam um papel activo na implementação do “Plano de Longo Prazo” do National Health Service (NHS).

Perante o envelhecimento da população, que desafia a sustentabilidade dos sistemas de saúde e de segurança social, os nossos velhos aliados ingleses chegaram à mesma conclusão que nós: é necessário apostar na prevenção.

A diferença é que eles têm um plano de longo prazo, com metas concretas, medidas claras e investimento plurianual. Nós só dispomos de orçamentos anuais – que todos sabemos insuficientes para as necessidades reais.

Outra diferença é que eles já estão a implementar um modelo colaborativo entre serviços de saúde, com foco na articulação local entre os diferentes profissionais, colocando o cidadão britânico no centro do sistema. Em Portugal, persiste uma cultura de resistência e de desconfiança, em que os doentes são muitas vezes tratados como propriedade dos serviços, sem vontade própria nem liberdade de escolha.

Como resultado, doentes com patologias muitas vezes limitantes, como cancro, VIH-sida ou distúrbios do sistema nervoso central, são obrigados a fazer grandes deslocações só para irem levantar medicamentos aos hospitais, sem qualquer acto clínico associado. Estas pessoas estão no centro do sistema? Pelo contrário, são penalizadas por viverem na periferia.

Nos países civilizados, multiplicam-se os acordos entre os governos e as farmácias. Na Irlanda, estão protocolados serviços como a vacinação para a gripe, cessação tabágica, medição da pressão arterial e do colesterol. No Canadá, os farmacêuticos vão passar a administrar vacinas e a gerir situações comuns de saúde, para evitar idas desnecessárias às urgências hospitalares. Para combater os riscos da duplicação de medicação, o Estado pede-lhes que se ocupem da reconciliação das prescrições feitas por médicos, enfermeiros e dentistas, comunicando com estes profissionais sempre que a adesão à terapêutica e a segurança dos doentes o imponham. Na Suíça, cresce exponencialmente a vacinação contra a gripe nas farmácias. A Nova Zelândia celebrou no ano passado um acordo para a prestação nas farmácias de uma ampla gama de serviços de saúde. A Austrália já vai no sexto acordo deste tipo.

Em Portugal, as farmácias têm investido continuamente na formação das suas equipas para responder a qualquer objectivo de Saúde Pública.

Quando o Governo decidiu dar liberdade de escolha aos doentes com ostomia, em cinco meses 745 farmacêuticos de todo o país foram capacitados no acompanhamento técnico e psicológico dessas pessoas. Na Grande Lisboa, há 352 farmacêuticos prontos para dispensar anti-retrovirais, mais do que os portadores de VIH-sida incluídos no projecto-piloto em curso no Hospital Curry Cabral. Em Loures e Odivelas, as farmácias aumentaram a cobertura vacinal dos idosos contra a gripe em 32 por cento, por terem podido fazê-lo, pela primeira vez, nas mesmas condições que os centros de saúde.

Estamos, pois, confiantes de que o próximo Governo, qualquer que seja a escolha dos portugueses, perceberá a urgência de celebrar um novo acordo com a rede de farmácias. Se o Estado se deixou atrasar em relação a outros países civilizados, o mesmo não se pode dizer dos portugueses. A petição “Salvar as Farmácias, Cumprir o SNS” recolheu mais de 120 mil assinaturas, foi a maior da legislatura que agora termina. A Assembleia da República, independentemente da sua composição, não deixará de encarar como prioritário o debate desse documento. Os portugueses merecem usufruir plenamente da sua rede de farmácias, que é uma das melhores e mais qualificadas do mundo.
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