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6 junho 2019
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Mário Pereira, Miguel Ribeiro Fernandes e Pedro Loureiro Fotografia de Mário Pereira, Miguel Ribeiro Fernandes e Pedro Loureiro

Loures, a capital das farmácias

​​​​​​​Entrega de medicamentos ao domicílio e vacinas da gripe gratuitas.

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Sou Joaquim de Almeida mas não faço fitas», brinca o senhor Joaquim, quase 83 anos vividos com bom-humor, em jeito de apresentação. Di-lo para evitar confusões com o actor com o mesmo nome.

Nesta tarde solarenga de terça-feira, o utente da Farmácia Rocha Santos, Loures, recebe as visitas no seu apartamento, que partilha com a companheira de toda a vida, Maria Delfina, em Santo António dos Cavaleiros. 

Há cerca de um mês, abriu a porta por outro motivo. Era o estafeta, vindo directamente da sua farmácia, a trazer-lhe os medicamentos que encomendara pouco antes para Maria Delfina: um para as articulações, outro para a circulação.


«Acho óptimo», diz Joaquim de Almeida, que já experimentou pedir medicamentos ao domicílio

Joaquim de Almeida é um dos 12 utentes da Farmácia Rocha Santos que já recorreram à entrega de medicamentos ao domicílio. Este «serviço extraordinário», como ele lhe chama, é uma das mais recentes iniciativas de 47 farmácias do concelho de Loures, que se reuniram no Movimento Loures Tem + Saúde para investir em novos serviços à população. 

O serviço Medicamentos Agora em Sua Casa foi criado no dia 12 de Março. Até 4 de Maio, 404 pessoas deste concelho contíguo a Lisboa contactaram o número 1400 e receberam os seus medicamentos em casa, sem quaisquer custos. Nessa primeira segunda-feira de Maio, o serviço foi alargado ao concelho de Odivelas.

O compromisso das farmácias é garantir a entrega de medicamentos ao domicílio no tempo máximo de duas horas aos 350 mil habitantes dos concelhos de Loures e de Odivelas. Nos primeiros dois meses, as entregas decorreram no tempo médio de uma hora e vinte minutos. «Fiz a encomenda e disseram-me: “Daqui a duas horas estão em sua casa". Assim foi!», descreve o bem-disposto ancião. E entusiasma-se: «Acho óptimo».

Antes mesmo de chegar a medicação, recebeu uma chamada do doutor Hugo, da Farmácia Rocha Santos, a explicar-lhe como usá-la. O aconselhamento farmacêutico é, aliás, um dos pressupostos do novo serviço.

Quanto ao senhor Joaquim, não poderia estar mais satisfeito. Considera o serviço especialmente importante para «as pessoas que não têm possibilidade de sair de casa porque não têm transporte ou a sua mobilidade já foi». Ainda não é o seu caso. Naquele dia, deu-lhe jeito, mas por regra gosta de sair de casa e visitar os seus amigos na farmácia. «Sabe? O mundo seria com certeza muito melhor se todos nós pensássemos um bocadinho nos outros, se tornássemos o seu caminho mais suave», sentencia, antes de se despedir.


Luís Oliveira já sofreu quatro enfartes. Quando se sente pior, fica em casa

O caminho de Luís Oliveira não tem sido fácil. Aos 65 anos, já sobreviveu a quatro enfartes. Para além dos problemas cardíacos, sofre de diabetes. Vive sozinho num bairro da zona da Flamenga, em Santo António dos Cavaleiros. Tenta sair todos os dias para caminhar um pouco. Tem, porém, «dias sim e dias não».

Nos dias “não”, prefere «ficar em casa sossegado». Tem receio de reviver a experiência de voltar a casa aflito para chamar uma ambulância. Foi num desses dias menos bons que pediu para lhe entregarem os medicamentos em casa, vindos da Farmácia Ímpar, a mais próxima. Recebeu-os em cerca de uma hora. Reformado por invalidez, Luís acredita que a entrega de medicação ao domicílio é fundamental, sobretudo para os idosos com dificuldades de mobilidade. «É um serviço ao qual as pessoas devem recorrer», aconselha.

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O serviço Medicamentos Agora em Sua Casa funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano. A receita electrónica e uma aplicação móvel permitem aos cidadãos aviar medicamentos de prescrição médica obrigatória. As farmácias entregam ao domicílio quaisquer produtos, mas a população concentra-se nos medicamentos. Até ao momento, a excepção foi o pedido que uma mãe fez de um biberão para o seu bebé.


Em Loures e Odivelas, os munícipes recebem os medicamentos em casa, sem custos, a qualquer hora do dia e da noite

Maria Adelaide Candeias, de 67 anos, sempre que precisa prefere ir ao encontro dos profissionais de saúde da Farmácia Olaias, que funciona com horário alargado no LoureShopping. Há dias, caiu. «Magoei-me bastante no pulso. Foi o enfermeiro da farmácia quem me tratou», conta. A farmácia é também um paliativo perfeito para a solidão que a atormenta por vezes. «Entro lá e parece que me passa logo tudo, é uma alegria. É como se fosse uma pessoa de família», entusiasma-se. Cimentou uma relação de cumplicidade com a equipa da farmácia ao longo dos anos. «Começaram a desafiar-me para ir almoçar e jantar. Eu com esta idade! E eu também desafiei as raparigas para ir ao zumba», conta Adelaide.

Não admira que escolha sempre a Farmácia Olaias quando faz pedidos de medicamentos ao domicílio para o número 1400. A central telefónica informa os utentes das farmácias mais próximas abertas e com os medicamentos disponíveis. A opção é deles. «Para mim, o serviço é óptimo», considera. «Dá-me jeito. Ou porque tenho de fazer alguma coisa e não posso ir à farmácia, ou quando estou doente e não dá para ir à rua».

Em Outubro, Adelaide também escolheu a Farmácia Olaias para lhe administrar a vacina da gripe. «Nunca tinha levado a vacina», confessa. A rede de farmácias já administra vacinas da gripe há onze anos. No entanto, pela primeira vez, nesta época vacinal as farmácias de Loures e Odivelas integraram a campanha de vacinação da Direcção-Geral da Saúde, no âmbito de uma experiência-piloto. Puderam assim vacinar os maiores de 64 anos em condições de igualdade com os centros de saúde, sem necessidade de receita médica e de forma gratuita.

Com esta colaboração inédita das farmácias, 40 mil pessoas deste grupo de risco foram imunizadas nos dois concelhos, mais 10 mil do que no ano passado. A cobertura vacinal subiu 31,8 por cento, com a colaboração de Adelaide Candeias. «Eu ao posto médico não ia, não valia a pena. Quando me disseram que na farmácia também era gratuito, tomei logo a vacina», justifica ela. Não apanhou a doença e só se constipou uma vez.


A Farmácia Ímpar vacina gratuitamente os idosos contra a gripe e entrega medicamentos ao domicílio

Este ano, Ludgero Silva, doente de risco pela idade e pelas doenças crónicas, também escapou à gripe. Vacinou-se na Farmácia Ímpar, em Santo António dos Cavaleiros. Aos 68 anos, Ludgero sofre de diabetes, problemas de fígado e hipertensão. Por isso, não pensou duas vezes quando Tiago Campos, o director-técnico da farmácia, o convidou a vacinar-se. «É prático e não perdi tempo», justifica. «Não fiquei sequer constipado», alegra-se. Motivo mais do que suficiente para pretender repetir a experiência no próximo ano.


Ludgero Silva escapou à gripe graças à vacina, na Farmácia Ímpar

Alfredo Ramalho Pena, 79 primaveras bem contadas, barbeiro de profissão, não gosta de perder tempo, tampouco de ficar doente. Por conhecer os riscos associados à gripe, toma a vacina todos os anos. No último Outono, escolheu a Farmácia Alto da Eira, na freguesia onde vive, em Santa Iria da Azóia, também no concelho de Loures. «Fui lá buscar medicamentos e aproveitei. Não posso perder muito tempo», conta na sua barbearia, enquanto dá os últimos retoques no cabelo de um cliente. «Para ir ao posto médico, tinha de ir àquela hora certa. Ali, deram-ma logo», remata.


O barbeiro Alfredo Pena não tem tempo a perder. Por isso, vacinou-se na Farmácia Alto da Eira

A Farmácia Alto da Eira vacinou cerca de 500 pessoas nesta campanha de vacinação. «Temos um horário bastante alargado. As pessoas vieram sem necessidade de marcar antes, ou trazer receita médica», explica o farmacêutico Pedro Pimentel, que atribui este sucesso, precisamente, à facilidade de acesso.

«É muito mais prático», concorda Bertina Mendes, de 74 anos. «Moro perto e venho. Se estiver pouca gente, espero só um bocadinho e apanho logo a vacina», descreve a reformada, vizinha da farmácia. Já no centro de saúde, continua, «há muita gente e espera-se imenso tempo». A Dona Bertina aproveita para agradecer a iniciativa: «Veio facilitar a vida às pessoas na terceira idade».​
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