Os alunos do 9.º ano chegam ao auditório da Escola Básica Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, num intervalo entre aulas, preparados para participar no rastreio à COVID-19. No interior, a equipa de farmacêuticos da Farmácia das Devesas está equipada e pronta para mais uma ronda de testes.
Tranquilamente, Francisco Carvalho voluntaria-se para ser o primeiro. O aluno de 14 anos confessa que o teste «dói um pouco, mas é rápido e acessível». A testagem regular permite identificar e isolar os alunos infetados, protegendo a comunidade escolar. «E assim sabemos se podemos encontrar-nos com os nossos amigos».
«A socialização é um ponto importantíssimo da escola», afirma a mãe, Lucinda Gomes. A professora de educação especial explica como o protocolo de testagem com as farmácias contribuiu para a segurança das famílias, principalmente nos casos em que os alunos partilham o teto com familiares idosos. «É uma ação que nos permite agir em nome da segurança de toda a comunidade».
O acordo entre a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e a Associação Nacional das Farmácias (ANF) arrancou a 18 de janeiro, possibilitando a testagem de cerca de um milhão de estudantes das escolas públicas de todo o país.
Filinto Lima, presidente da ANDAEP, destaca a importância da união entre os setores da Saúde e da Educação
A ideia surgiu quando a Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou que a testagem nas escolas passaria a incluir apenas professores e funcionários, ao contrário do que aconteceu no primeiro período escolar. «Nós questionámo-nos: “então e os alunos?”», recorda o presidente da ANDAEP, Filinto Lima.
A falta de resposta incentivou a assinatura do protocolo, que previa que o serviço de testagem fosse articulado localmente entre a escola e a farmácia, de acordo com as necessidades de cada concelho.
«Mesmo sem sintomas e com a vacina tomada, nunca sabemos se estamos ou não infetados». Francisca Ferreira, atleta federada de kickbox, orgulhosamente presidente da associação de estudantes e delegada de turma, acumula quase tantos testes negativos como os títulos que enverga.
«Testarmo-nos é um alívio de consciência», considera Francisca
«Testarmo-nos é um alívio de consciência, mas também um ato de solidariedade para com a nossa família».
No dia que marcou o arranque da iniciativa, a Farmácia das Devesas contou com o apoio de outra farmácia do concelho na realização de mais de 500 testes. O processo, que começa com a recolha prévia do consentimento informado assinado pelos encarregados de educação, só termina no final do dia de testagem, quando todos os testes são devidamente registados no SINAVE.
Trabalhar com a comunidade é o desígnio de Sónia Sousa, diretora-técnica da Farmácia das Devesas
«Para nós, tudo o que possa fazer com que a farmácia saia do seu ambiente e trabalhar com a sua comunidade é importante», afirma Sónia Sousa. Além da contribuição para a proteção da saúde da população, a diretora-técnica destaca o reconhecimento pela profissão farmacêutica, até então desconhecida por muitos alunos.
Beatriz sente-se mais segura por poder ser testada na escola, pela farmácia do bairro
Beatriz Paredes, presidente do conselho fiscal da associação de estudantes e futura jornalista, admite que a COVID-19 mudou a sua vida: «Passei a ter contactos mais limitados, para proteger a minha família». O acordo de testagem «é uma mais-valia», acima de tudo por ser feito na escola, pelas mãos da farmácia de proximidade. «Faz-nos sentir a todos mais seguros», reforça o colega João Pereira. Filinto Lima faz um balanço positivo da iniciativa.
«A grande vantagem foi a segurança que transmitimos a alunos, pais e professores». O também presidente do agrupamento escolar Dr. Costa Matos enfatiza a importância da união entre os setores da saúde e da educação em prol do bem-estar de todos, e sublinha: «As farmácias de proximidade foram a chave do sucesso».