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29 abril 2021
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

Geração digital

​​Confinamento reforça impacto da Internet.​

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A adolescência é uma fase única na vida. O corpo vida em que o corpo e os comportamentos mudam, as emoções intensificam-se e começa a surgir uma vontade de explorar relacionamentos sociais, como namoro e outros compromissos afectivos. É um tempo em que a sexualidade ocupa um espaço essencial na formação da identidade da pessoa.

É uma altura de descoberta e aprendizagem, com a constante busca de informações sobre o que é percepcionado nas mudanças corporais e sobre o que é sentido a cada momento. Sempre foi assim. Mas os novos tempos fazem com que essa percepção de saberes seja realizada principalmente através da Internet e das redes sociais, em vez da influência da família e da informação entre amigos.

A curiosidade do adolescente encontra na Internet um espaço ilimitado, sem fronteiras ou barreiras culturais. Tudo é fácil, a informação chega através de um vulgar computador, telemóvel ou tablet, disponível 24 horas por dia. O chegar a casa não significa desligar, mas antes interagir nas redes sociais, enviar mensagens e fotos, configurando um eterno "estar ligado".

É nesse espaço virtual de interacção social, com normas e regras próprias, que, actualmente, as crianças e os adolescentes desenvolvem as suas identidades sexuais. As aplicações e os websites oferecem aos jovens uma abrangente perspectiva do mundo que os rodeia. Se utilizadas com respeito e cuidado, essas ferramentas podem ser úteis e pedagógicas. Mas também podem ser uma verdadeira ameaça quando extrapolam os limites entre o real e o virtual, o público e o privado, o legal e o ilegal, a informação e a distorção dos factos. As novas tecnologias da comunicação podem inequivocamente afectar a socialização, e perturbar o desenvolvimento e a cultura sexuais.

No isolamento do quarto e no anonimato do seu dispositivo, o jovem inicia os seus conhecimentos sexuais com imagens de erotismo e pornografia, com informações obtidas livremente a partir de pessoas de todos os tipos e idades, cuja identidade real pode ser desconhecida. O uso de nomes, géneros e idades falsos é comum e suspeito. E pode ser perigoso. A revolução tecnológica da comunicação e do ciberespaço, principalmente nas redes sociais, leva a uma sensação de ligação e intimidade a partir do momento em que existe um convite e uma aceitação de amizade nas redes. Mesmo num relacionamento superficial, é frequente o jovem divulgar a sua imagem, pública ou intimamente, por fotografias ou por transmissão visual em tempo real ou vídeo.

Na maior parte dos casos este novo padrão digital, sendo diferente, não é preocupante. Quase sempre se limita ao uso de texting e messaging atrevido e sedutor, absolutamente integrado no normal desenvolvimento da identidade sexual do adolescente. Mas pode ter riscos. É importante saber distinguir risco e dano. O risco não é necessariamente algo que determine uma situação negativa. Podem até existir situações em que haja oportunidade para aprender, ganhar resiliência e saber lidar com situações difíceis. O dano é outra coisa, e é sempre negativa. O jovem pode, em crescendo, passar a conhecer o cyberbullying, o sexting, o grooming e tudo o que, online, favorece a exploração sexual, a pedofilia e outras ameaças à saúde física e mental dos jovens.

E estes tempos em que a pandemia de COVID-19 promove o afastamento físico das pessoas? Nos jovens, em particular, as consequências são mais complicadas ao nível da sua sexualidade, pois sentem drasticamente diminuídas as capacidades de socialização, encontro e namoro. O recurso à comunicação online, às redes sociais e a plataformas de encontros sexuais aumentou inevitavelmente.

O que podem os pais fazer? É evidente que de nada serve diabolizar as redes sociais ou as plataformas online.

Os pais devem informar as crianças e jovens dos riscos do mundo virtual, do mesmo modo que os informam dos riscos do mundo real. Explicar que não se devem expor nas redes sociais e não devem ter conversas íntimas com pessoas desconhecidas. Que não devem marcar encontros com pessoas que não conhecem. Não aceitar presentes ou convites para viagens ou estadias noutros lugares. Ter o máximo de cuidado ao transmitir imagens, nunca enviando fotos ou vídeos sem roupa ou em posições sexualmente explícitas. Diga-lhes que devem saber configurar e mudar o perfil no computador ou telemóvel, e como bloquear mensagens inseguras ou pessoas estranhas. E, sobretudo, ter bom senso.
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