Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
19 março 2018
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Crise na insulina

​​​​​​​​​​​​​​​Falhas de medicamentos obrigam doentes a interromper a medicação por alguns dias.

Tags

Desde que Maria Irene Braga, moradora em Escariz, concelho de Arouca, é responsável pela aquisição do antidiabético oral Trajenta para a madrasta de 76 anos, já lá vão dois anos, tem tido sempre «dificuldade em encontrar o medicamento nas farmácias». Nunca se atreveu a sugerir ao médico para mudar a medicação, até porque «ele diz sempre para manter tudo conforme está», mas está sempre à espera do dia em que vai «ficar mal». Vive assustada com o cenário da madrasta ficar sem a medicação necessária. Até agora, a sua estratégia é marcar nova consulta para pedir mais medicação quando já só tem duas caixas de reserva. «Demora sempre bastante tempo desde que encomendo na farmácia até que o medicamento chega. A farmácia diz que o laboratório manda tudo contadinho, pouca quantidade de cada vez».

No dia-a-dia da prática clínica, o endocrinologista Francisco Sobral Rosário, para além do Trajenta também sentiu a falta da insulina Lantus ao longo de 2017. O problema levou o coordenador do Serviço de Endocrinologia do Hospital da Luz Lisboa a recorrer a medicamentos de substituição. Há um biossimilar disponível para a insulina Lantus e, no caso do Trajenta, foi precisa «alguma ginástica para encontrar outros fármacos», porque «é um medicamento, na sua classe, com características únicas em termos de função renal».​

0001 (2).jpg

O Abasaglar, biossimilar do Lantus, também é difícil de encontrar, conta Ricardo Rodrigues, de 27 anos, que desde o ano passado compra a medicação para a avó, que sofre de diabetes. Mora em Tavira e tem normalmente de percorrer várias farmácias até conseguir comprá-la. Outras vezes encomenda e vai buscar depois.

«Não é fácil de encontrar e é desgastante andar constantemente a correr as várias farmácias do concelho, para não comprometer a saúde da minha avó».

Os problemas pontuais no acesso a estes medicamentos «já duram há algum tempo e nunca se chegaram a resolver». É esta a percepção da médica Cristina Esteves quanto à falta do Lantus e do Trajenta, medicamentos «largamente entregues na consulta de diabetes». A responsável do Núcleo de Diabetes do Hospital Distrital de Santarém nunca sentiu necessidade de substituir a terapêutica, mas admite que pode ter havido doentes que tenham interrompido a medicação por alguns dias.

Untitled 4.jpg
Cristina Esteves, médica responsável do Núcleo de Diabetes do Hospital Distrital de Santarém

«Cabe normalmente aos enfermeiros alertar os doentes para a importância de não interromperem a medicação e aos médicos perceber as causas das interrupções e criar uma terapêutica alternativa a que o doente adira melhor», explica.

Em nenhum caso soube que tal interrupção tenha acarretado uma descompensação aguda, que tenha levado ao internamento de algum doente. Mas pode acontecer. «O perigo de interrupção da terapêutica com insulina é maior no caso da diabetes tipo 1 do que na diabetes tipo 2. Grande parte dos nossos doentes são de última linha, diabéticos tipo 2 com complicações já graves, como insuficiência renal, por exemplo, e que necessitam de terapêutica com insulina».

Cristina Esteves alerta também para a falta da insulina Insuman Basal, reportada por alguns doentes e muito usada na Consulta de Diabetes do Hospital Distrital de Santarém. A sua falta causa transtorno aos doentes, pois é a única insulina basal com caneta descartável, um sistema mais prático. Esta insulina, à semelhança do Lantus, faz parte da lista de medicamentos essenciais da OMS.


Notícias relacionadas