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8 fevereiro 2021
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Corrida às vacinas

​​​​​​​​Nunca tantos portugueses quiseram imunizar-se contra a gripe.​​

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A manhã de segunda-feira vai a meio e o movimento é “novo normalíssimo” na Farmácia Parque do Estoril. Não há filas, não há atropelos. Apenas dois utentes, de máscara no rosto e distância bem medida, aguardam serenamente à porta que quem está a ser atendido lá dentro lhes ceda o lugar.


No primeiro dia de vacinação, Maria Teresa Lourenço encontrou uma fila de gente à porta da farmácia

A campanha de vacinação contra a gripe mais agitada de sempre arrancou há uma semana. «O dia 19 de Outubro foi uma loucura», conta a directora-técnica, Maria Teresa Lourenço, ainda hoje admirada com a inédita fila de pessoas que encontrou à porta da farmácia, 30 minutos antes de abrir. Nesse primeiro dia, os farmacêuticos da equipa administraram 43 vacinas das 283 que tinham disponíveis. Acabaram em poucos dias, não chegaram ao fim-de-semana. Os distribuidores comprometeram-se a fornecer mais 311 doses, em meados de Novembro. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) forneceu 50 vacinas e não fará segunda entrega. Não chegam para as encomendas, longe disso.


«Deixámos de ter de promover a vacinação para termos de acalmar a ansiedade que se instalou», conta Joana Saraiva

A procura, a nível nacional, cresceu cinco vezes. Aqui, mais do que duplicou. No ano passado, a Farmácia Parque do Estoril vacinou perto de quinhentas pessoas. A lista de reservas desta época chega às mil. «Há muitas pessoas que nunca se tinham vacinado e preferem fazê-lo na farmácia. E outras tantas que antes iam ao centro de saúde e este ano se querem vacinar connosco», conta a farmacêutica Joana Saraiva. «As pessoas estão com medo. E aqui sentem-se seguras», explica, convicta.

Em 2019, a gripe ainda era subestimada por muita gente, apesar de matar, em média, 650 mil pessoas por ano, mais de três mil em Portugal. O desafio lançado às farmácias, como rede de saúde mais próxima das pessoas, era combater a iliteracia sobre a doença e fazer crescer a taxa de cobertura vacinal. Com a pandemia, a situação inverteu-se. «De repente, deixámos de ter de promover a vacinação para passarmos a ter de tranquilizar a população e acalmar a ansiedade que se instalou», relata Joana Saraiva.

O medo gerou uma corrida às vacinas. Os pedidos e inscrições começaram no Verão. «Percebemos, logo em Agosto, que esta iria ser uma época atípica». Para poder garantir a fluidez do serviço, sobrecarregado pelas medidas de protecção individual e de desinfecção impostas pela COVID-19, a farmácia contratou uma enfermeira para dar apoio às suas três farmacêuticas habilitadas a administrar vacinas. «As pessoas estão impacientes e o primeiro dia foi um reflexo vivo disso mesmo. Nós compreendemos e compete-nos trazer-lhes alguma serenidade. Para além da operação, temos também de gerir a emoção», comenta Maria Teresa.

As autoridades de saúde alertaram as pessoas para a confusão de sintomas entre a gripe e a COVID-19, assim como para o risco de ruptura das urgências, que todos os Invernos ficam caóticas no pico epidémico.


Maria João, asmática, vacina-se sempre na farmácia: «No primeiro ano, fiquei horas à espera no centro de saúde. Jurei que nunca mais»​

Maria João, asmática, acaba de chegar à Farmácia Central, no Cacém, para se vacinar. Ao entrar, teve de passar o crivo do segurança da casa. Com o termómetro de infravermelhos e um borrifador de desinfectante em riste, o senhor Adelino controla os acessos. «É sempre um momento de stress», confessa a mulher, de 59 anos. 
No início de Setembro negativou, finalmente, nos testes à COVID-19, depois de um tormento de seis meses. Passou mal, teve de ser internada. «A tosse, a dificuldade em respirar e a dor de cabeça foram difíceis, mas mais ainda foi o tempo que a doença durou», recorda. Ainda se cansa facilmente, ainda se sente em recuperação. O risco de uma gripe agravar o seu quadro crónico de asma leva-a a vacinar-se todos os anos, sempre na farmácia.
«Na primeira vez que me vacinei fui ao centro de saúde e estive horas à espera. Nunca mais lá voltei. O serviço na minha farmácia é rápido, é cómodo, compensa largamente», justifica Maria João. É funcionária administrativa e não quer voltar a meter baixa ao trabalho.



Luís Lourenço tinha 1.300 encomendas, mas só consegiu obter 350 vacinas da gripe​

A Farmácia Central vacina, em média, 15 pessoas por dia, em dois gabinetes de atendimento privado, com todos os equipamentos legais e desinfectados depois de cada administração. A equipa tem cinco farmacêuticos certificados para a prestação do serviço, um a mais do
que no ano passado. «Foi um investimento que fizemos antecipando a grande procura», diz o director-técnico. Este ano, recebeu mais de 1.300 pedidos de inscrição. As 210 vacinas que recebeu ficam muito aquém das necessidades. «Não lamento o investimento em formação, fica feito e é uma mais-valia», afirma Luís Lourenço.

Conseguiu contratualizar 140 vacinas ao abrigo do programa “Vacinação SNS Local”, que já   administrou a maiores de 65 anos. Precisava de mais, mas já lhe disseram que não. «O que me preocupa são as pessoas que vão ver a sua legítima expectativa frustrada, num momento tão sensível» lamenta o farmacêutico. No ano passado, esta farmácia dispensou 571 vacinas e vacinou 488 pessoas, o que corresponde a uma taxa de administração de 85 por cento. «Este ano, estamos nos 100 por cento, toda a gente prefere ser vacinada connosco», relata o farmacêutico.

Os doentes crónicos e os idosos são os mais assustados. Rita Palhinha, diabética de 56 anos, confessa que «tem medo». Todos os anos se vacina contra a gripe aqui. Este ano, recebeu uma SMS da farmácia a avisá-la de que tinha chegado a sua vez. «Ir ao centro de saúde é que nem pensar, ainda menos agora, com “o” COVID. Não, mesmo! Aqui, estou segura», desabafa.
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