Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
4 outubro 2019
Texto de Marta Xavier Cuntim (psicóloga) Texto de Marta Xavier Cuntim (psicóloga)

Começar de novo

​​​​​​​​O amor e a vida depois do cancro da mama.

Tags

O cancro da mama tem um forte impacto nas mulheres por ser uma zona do corpo associada à condição e sexualidade feminina. A mama é símbolo de sensualidade e sexualidade, por isso tem um papel muito relevante na auto-estima.

É inevitável que, perante a doença, as mulheres temam pela vida. É normal questionarem-se sobre a capacidade de lidar com o corpo, as cicatrizes. É normal recearem a forma de se relacionar com os outros e, em particular, com o companheiro. 

Numa primeira fase da doença, os profissionais de saúde concentram-se na solução para salvar a vida. A preocupação com a auto-estima e a saúde sexual da mulher surge, muitas vezes, numa terceira ou quarta fase, quando já está tudo mais calmo e estável.

Algumas mulheres sentem-se pouco à vontade em falar abertamente sobre a intimidade sexual, sobre os seus desejos e gostos. Ainda mais difícil é falar desses temas numa situação de doença. Quando os profissionais de saúde não abordam o tema, as mulheres podem achar que não é correcto serem elas a puxar o assunto.

Os medos são mais fáceis de encarar se a mulher com cancro da mama estiver numa relação estável que a faça sentir confiante, apoiada e acarinhada. Quando são os dois elementos do casal a sentir dificuldade em falar de sexualidade ou a identificar alterações na intimidade, mais facilmente conseguem pedir ajuda psicoterapêutica e/ou aos profissionais de saúde.

Durante e após os tratamentos, a mulher pode sofrer mudanças em termos de saúde sexual. Falta de desejo, dor na penetração e dificuldade em lubrificar são queixas comuns.

Estas situações podem ser causadas ou potenciadas pela medicação, pelos tratamentos, dor, alterações de humor, depressão e ansiedade. 

Falar sobre o assunto é determinante, pois não falar não significa que as questões deixem de existir. A ausência de diálogo no casal pode ser devastadora. Cada um sofre sozinho, incapaz de resolver um problema que é dos dois, e que só os dois podem ultrapassar.

Há mulheres que encaram o recomeço da vida sexual com naturalidade. Para outras é um processo difícil e doloroso. O recomeço da vida sexual é importante para a auto-estima da mulher. Se está bem na relação com o outro e satisfeita com a vida sexual, a auto-estima positiva contagia outras áreas da vida. Por outro lado, se a mulher se sente mal com o seu corpo, se está constrangida na relação com o outro, a vida sexual tem um impacto negativo na sua auto-estima.

Raramente pensamos em como o cancro pode trazer mudanças positivas. Sendo inegável o impacto negativo de uma doença oncológica na vida da mulher, não se pode deixar de reconhecer que cada vez são mais documentadas mudanças de vida positivas, decorrentes da doença. O cancro é um acontecimento de vida traumático, mas pela forma como é vivido pode ser potenciador de crescimento pós-trauma.

Este crescimento pessoal está associado a mudanças de vida positivas, com implicações a nível comportamental e emocional. 

Como tal, podem assumir um carácter verdadeiramente transformador, sobretudo ao nível das mudanças na percepção sobre si própria, no relacionamento com os outros, e relacionadas com a filosofia e os objectivos de vida.

Antes de mais, é preciso ter em consideração a estatística: uma em cada sete mulheres pode vir a ter cancro da mama. Este dado permite-nos perceber a probabilidade de nós, ou alguma mulher próxima, virmos a sofrer desta patologia.​
Notícias relacionadas