Carlos Paião tinha acabado de gravar primeiro disco, “Souvenir de Portugal”, quando se conheceram. E a empatia entre os dois, revela António Sala, foi imediata: «Gostámos logo um do outro logo».
Tornaram-se amigos. «Percebi que estava ali um miúdo com um talento fantástico. Ele escrevia de uma maneira tão fácil e fluente como nós falamos. Um almoço com o Carlos era uma paródia. Pedia sempre guardanapos para escrever ideias. Se eu dissesse assim: “Faz aí uma coisa sobre o almoço de hoje”. Passados cinco minutos, havia um poema de morrer a rir, giríssimo, em que [ele] abordava o lado caricato, o bom, saboroso, o menos bom, a forma como tínhamos sido atendidos e aquilo dava uma canção humorística fantástica. Se fosse preciso criar a melodia, passados dez minutos, também tinha a melodia criada», descreve o radialista.
Para António Sala, não há dúvida: «Carlos Paião é um dos grandes compositores de música ligeira do século XX». Com o músico e com Luís Arriaga, nascia, em 1984, na RTP1, “O Foguete”, um programa de humor e cultura passado num comboio com três personagens principais: o maquinista, o pica-bilhetes e o barman, interpretados pelos três amigos.
«Esse programa estava um bocadinho adiantado no tempo», considera António Sala. E, à distância de 38 anos, confessa que “O Foguete” ainda o faz sorrir: «O genérico é engraçadíssimo e a música também. Foi feita pelos três numa noitada».