Em 2021 faz cem anos que a vacina contra a tuberculose, a BCG, começou a ser utilizada, um dos mais antigos recursos usados pela Medicina.
Desde o início sabemos que não é uma boa vacina. Apesar disso, a Organização Mundial de Saúde continua a achá-la válida em contextos de elevada incidência, não só porque reduz a mortalidade mas porque evita as formas graves nas crianças: meningite e formas disseminadas.
A OMS não aconselha a utilização universal em países com um risco anual de infecção tuberculosa baixo, com poucos casos de meningite tuberculosa e poucos casos de doentes bacilíferos (que eliminam bacilos da tuberculose na expectoração).
É esta a actual situação em Portugal. Tal facto levou as autoridades de saúde a interromper em 2016 a administração da BCG a todas as crianças. Em vez de uma vacinação universal, passou-se para uma vacinação selectiva, direccionada para crianças com factores de risco individuais, familiares ou comunitários. Apenas se passaram a vacinar crianças susceptíveis à tuberculose, convivendo com familiares tuberculosos ou a viver em áreas com forte prevalência da doença.
Em 2017, verificou-se um aumento do número de casos de tuberculose em crianças com idade igual ou inferior a 5 anos. Nesse ano foram notificados 32 casos em crianças, quatro deles com formas graves da doença, que ocorreram em crianças não vacinadas. As autoridades de saúde admitem que exista uma ligação entre o aumento do número de casos e a mudança da política de vacinação.
Portugal fez um importante esforço para controlar a doença e os resultados foram positivos. A incidência da doença é de 16 casos por 100 mil habitantes. Com os outros índices epidemiológicos controlados, a opção de vacinar selectivamente parece correcta. Porém, o aumento do número de casos constitui um sinal de alerta que deve levar a medidas concretas. Quais? Identificar com maior precisão as crianças elegíveis para vacinação. Isso exige a colaboração das autoridades da saúde com os serviços Sociais, Centros de saúde, Juntas de Freguesia e autarquias.
Todos não somos de mais para atingir até 2030 o objectivo de erradicar a tuberculose. Enquanto não houver uma nova e melhor vacina, a BCG continua a ser uma poderosa aliada.