Foi uma boa surpresa», reage Virgínia Lopes, 72 anos, enquanto desenrola, braço abaixo, a manga da camisola rosa. Acabou de vacinar-se contra a gripe na farmácia do bairro onde vive, em Santa Iria de Azóia. Nos últimos anos ia ao centro de saúde, mas tinha de apanhar um autocarro. «Ficava muito fora de mão, assim é menos uma dor de cabeça», conta, aliviada. «Só nos primeiros 15 dias, 229 utentes foram vacinados aqui connosco», enumera a farmacêutica Dina Piriquito, que vacina na Farmácia Ribeiro Soares.
Aos 72 anos, Virgínia Lopes vacinou-se na farmácia sem custos
Este ano, os munícipes do concelho de Loures com 65 anos ou mais têm direito a vacinar-se gratuitamente contra a gripe em 36 farmácias locais. O projecto-piloto “Loures Tem Mais Saúde” pretende avaliar o impacto da rede de farmácias na cobertura vacinal da população de risco. Todos os anos, a gripe ataca dez por cento da população, causando grande absentismo ao trabalho e faltas escolares. O vírus é especialmente perigoso para a população mais vulnerável, como os idosos e doentes crónicos, grupos onde se concentra a mortalidade provocada pela doença.
A vacina é a protecção mais segura e eficaz. «Nunca mais me constipei», conta Maria Luísa Corado, 77 anos, portadora de fibromialgia. «Antigamente tinha gripes fortes. Deixei de me constipar e gripe a sério nunca mais tive», assegura também Celso Domingues, 68 anos, que há nove não falha uma época vacinal. A cobertura vacinal da população de risco tem aumentado nos últimos anos, mas as autoridades de saúde acreditam que a intervenção das farmácias pode melhorar ainda mais este indicador, à semelhança do que aconteceu noutros países europeus.
«A Farmácia Comunitária tem grande ligação aos idosos, facilitando a cobertura vacinal num grupo que, muitas vezes, tem problemas de mobilidade», declara Mário Durval, director do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, promotora do projecto-piloto. «Isto é particularmente interessante quando os Cuidados de Saúde Primários não têm enfermeiros de família que mantenham ligações de proximidade e confiança», expõe ainda o especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF).
Não é o único médico entusiasmado com a experiência. A directora do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Loures-Odivelas acredita que a colaboração com as farmácias «vai, com certeza, aumentar a taxa de cobertura vacinal». Pela sua experiência, a proximidade é um factor decisivo na imunização da população. «Este projecto, dirigido a idosos, vai permitir que aqueles que não vêm ao centro de saúde, ou têm mais dificuldade em fazê-lo, tenham junto a si um local mais próximo para aceder à vacina: a farmácia», expõe Ileine Lopes, também especialista em MGF.
A directora do Agrupamento de Centros de Saúde Loures-Odivelas está confiante no aumento da cobertura vacinal
A directora do ACES confia que o projecto-piloto vai permitir sensibilizar a população para a importância de se imunizar contra a gripe e vacinar mais pessoas. Não faltam relatos disso. «Eu faço a vacina há já nove anos, mas a minha mulher não. Este ano, como viemos os dois à farmácia, ela também se vacinou no mesmo dia», conta Celso Domingues, soldador reformado e militante contra o vírus da gripe.
Celso Domingues toma sempre a vacina e garante que tem resultados
Para além da vacinação dos grupos de risco, a imunização da população em geral tem interesse para a saúde pública. A gripe é uma doença crónica. Os idosos e doentes crónicos, mesmo quando não saem à rua, são muitas vezes infectados pelos familiares e cuidadores. «Quanto mais pessoas levarem a vacina, melhor. Trata-se de imunidade de grupo», expõe a directora do ACES. Esta responsável lembra que «há utentes que não vão ao centro de saúde».
As farmácias já vacinam a população contra a gripe há dez anos. No entanto, pela primeira vez, o Estado garante em Loures vacinas gratuitas para um grupo de risco, em condições de igualdade com os centros de saúde. A nova secretária de Estado da Saúde considera este projecto-piloto uma «iniciativa de louvar». A intervenção das farmácias «poderá permitir tornar a vacinação mais fácil e mais próxima do utente», declarou Raquel Duarte na assinatura do projecto-piloto, realizada no dia 8 de Novembro. A responsável governamental anunciou que os resultados serão avaliados no final do ano. A directora-geral da Saúde, presente na cerimónia, considerou as farmácias «um parceiro indispensável, porque estão no prédio, estão no bairro, próximas das pessoas e em horário alargado». Graça Freitas disse ainda que «se se demonstrar que vale a pena, este projecto-piloto será alargado na próxima época gripal».
Protocolo do projecto-piloto foi assinado em 8 de Novembro