Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
5 setembro 2022
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de João Lopes Vídeo de João Lopes

Alcoutim, terra de contrabando

​​​​​​​​​Durante três dias, são recriados os tempos de dificuldade numa festa que atrai milhares de pessoas.

Tags
Aos 16 anos, Ildefonso Martins já era contrabandista. Logo no primeiro serviço passou armas para o lado espanhol, no início da guerra civil, em 1936. Acumulou décadas de aventuras como “comandante de bando”, a atravessar o Guadiana a nado, traficando mercadoria que vendia ao dobro do preço. Mais do que a dureza, era o risco: a guarda fiscal atirava a matar. Uma vez, num frio mês de janeiro, no início dos anos 50, foi apanhado pela guarda à chegada à margem portuguesa. Obrigaram-no a deixar a carga e caminhar nu e descalço até casa, sete quilómetros por caminhos e veredas. Conta-se que bebeu uma garrafa inteira de aguardente, para aquecer. Ildefonso era um homem corpulento e galante, gostava de festas e de tocar acordeão. Morreu há um ano, a quatro dias de celebrar o 101º aniversário, mas as peripécias deste e doutros contrabandistas estão imortalizadas em vídeo, um trabalho de recolha de testemunhos que o município de Alcoutim realizou a propósito da organização do Festival do Contrabando. 


Ildefonso Martins começou como contrabandista aos 16 anos. Acumulou décadas de aventuras como "comandante de bando" (foto: Município de Alcoutim)​

Durante três dias, as vilas de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana, unidas por uma ponte flutuante, juntam-se numa festa que traz à região raiana milhares de pessoas. Atores recriam momentos alusivos às atividades do contrabando, há um mercado de época, ofícios artesanais, teatro e circo de rua e muita música. 


Júlio Cardoso​, técnico de turismo do município de Alcoutim, é um dos organizadores do Festival do Contrabando

«O festival é uma homenagem aos contrabandistas, mas também aos guardas fiscais, aos barqueiros, pescadores, almocreves, taberneiros, às famílias que viveram anos de fome e pobreza. O contrabando, apesar de ilícito, era o sustento de muitas famílias», explica Júlio Cardoso. Durante a guerra civil espanhola, entre 1936 e 1939, «as pessoas passavam mesmo fome», explica o técnico de turismo do município de Alcoutim. Os produtos contrabandeados eram bens de primeira necessidade. «O café é o grande embaixador, mas também a farinha, açúcar, ovos, trigo, pedras de isqueiro, sabão…». De Espanha chegavam miolo de amêndoa, perfume, tecidos, como a bombazine ou os xailes de Manila, e calçado, que por cá eram mais caros. Vivenciar este mundo antigo está à distância de uma visita à vila de Alcoutim, em março de 2023, data da próxima edição.

 

Notícias relacionadas