«Na escola não ficava quieto e não conseguia focar-me nos estudos (…) estavam sempre a chamar-me a atenção (…) diziam que tinha capacidades, mas que era preguiçoso», «perco-me nas conversas, não consigo estar concentrado numa reunião»; «estou sempre a perder o telemóvel, as chaves e a carteira»; «não consigo manter nada na minha vida, farto-me de tudo muito rápido»; «distraio-me e nunca acabo nada! (…) estou sempre a procrastinar!»; «nem sabia que existia, mas vi no instagram que tenho todos os sintomas. Será que tenho hiperatividade ou défice de atenção?»
Questões como estas são cada vez mais frequentes em consulta. A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) nos adultos continua a ser desvalorizada.
A PHDA é uma alteração do neurodesenvolvimento que surge na infância e permanece, numa parte significativa das pessoas, na idade adulta. A sintomatologia é variável, sendo comum a desatenção, impulsividade, desregulação emocional, e dificuldades na capacidade de execução de tarefas e obrigações. Outras manifestações comuns incluem inquietação corporal e agitação psicológica. Iniciar projetos sem os terminar, agir ou falar impulsivamente, ter dificuldade na gestão do tempo, perder objetos com facilidade, e ser incapaz de prestar atenção a conversas, são comportamentos frequentes. Estes sintomas provocam inúmeras consequências negativas nas relações interpessoais e no bem-estar destas pessoas. Queixam-se repetidamente de dificuldades na vida pessoal, familiar, académica e profissional. A PHDA está também associada a maior incidência de acidentes de viação e de criminalidade.
Importa notar que os sintomas de PHDA podem ser semelhantes aos de múltiplas outras perturbações de saúde mental. A correta avaliação e a realização do diagnóstico diferencial são essenciais. A existência de comorbilidade é também muito comum nestes doentes.
O tratamento é bastante eficaz e tem impacto direto no alívio dos sintomas, com tradução na melhoria das capacidades de quem sofre desta doença. Todavia, em alguns casos, podem surgir efeitos indesejáveis, como a perda de apetite. Assim, quando há suspeita de PHDA, é indispensável realizar um estudo médico cuidadoso e meticuloso. Esta avaliação é essencial para obter um diagnóstico correto, permitindo a escolha do tratamento adequado à pessoa e à patologia, e a consequente melhoria da qualidade de vida de quem sofre desta doença.