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14 janeiro 2019
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«A minha avó levou-me para a música»

​​​​​​​​​​​​​​​António Zambujo começou a cantar num grupo tradicional.

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​Lançou recentemente “Do Avesso”. Como foi concebido este álbum? 
Com muito amor, como tudo o que é concebido.

Porquê “Do Avesso”?
Eu não escolhi o título, foi alguém da equipa. Achei que fazia sentido pela explicação que me foi dada: são influências que não estavam tão presentes em discos anteriores mas já existiam. Ou seja, não eram tão evidentes como o fado, a música tradicional ou a música popular brasileira, mas já faziam parte dos meus gostos e já me tinham influenciado em muitas coisas. A música do Tom Waits, a do Rodrigo Amarante, dos Beatles e dos Beach Boys. Enfim... há uma influência mais folk, anglo-saxónica. 


 



É um disco mais intimista, mais pessoal?
Todos são. Os discos são registos de momentos. Tem a ver com a época, as músicas que ouvimos, as pessoas com quem estamos. 

Até que ponto crescer em Beja influenciou a sua identidade pessoal e musical?
As pessoas com quem estamos, que escolhemos como modelo, influenciam-nos. No meu caso, foi a minha avó. Tive uma infância como a de todas as crianças. A diferença é que na altura nós brincávamos muito na rua, tínhamos mais liberdade. E aprendíamos a safar-nos sozinhos entre amigos. Os adultos não entravam ali.

Quando começou a cantar?
Era muito miúdo. Via os homens a cantar e ia tentando aproximar-me. A minha avó ensinava-me as letras e eu ia chegando, chegando perto... até começar a cantar com eles. Depois, alguém soube que eu cantava e falou com os meus pais para eu integrar um grupo de música tradicional chamado Trigo Limpo. Ainda gravei dois discos com eles. Nós éramos a parte dos miúdos. Chamavam-nos Trigo Limpinho (risos).



Foi nessa altura que começou a aprender clarinete?
Quando fui para o Conservatório, escolhi o clarinete. Toquei numa banda filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Beja e fui mantendo as duas coisas em paralelo.

​​​Numa entrevista, atribuiu a confiança em palco ao facto de saber q​​​​ue tem um dom.
A confiança em palco foi com o teatro. Estive quatro anos a ser dirigido [no musical "Amália"] pelo Filipe La Féria, que é um óptimo director de actores. E também por ter confiança naquilo que faço, claro. Preparo-me muito bem.

E a sua voz, sempre soube que era algo que tinha de partilhar?
Não. Era uma coisa que eu gostava de fazer. Gostava de cantar. Depois, sentia que provocava reacções nas pessoas e a maior parte delas reagia bem.

Na adolescência, começou a admirar o músico brasileiro João Gilberto.
Muito. Eu admiro vários artistas e há uns, o João Gilberto, o Chet Baker, o To​m Waits, o Caetano Veloso, com os quais sinto estar sempre a aprender. Estão a indicar-me um caminho, uma forma de encontrar o que imagino. 

O Caetano Veloso...
...É a voz mais bonita de sempre. Ouvir o Caetano cantar, além de ser uma aprendizagem, é um regalo.

Como é conhecer estas pessoas, trabalhar com elas? 
É bom. Nunca imaginei que pudesse acontecer e é um privilégio poder estar com eles, conversar, ouvir histórias de coisas que eu ouvia quando era miúdo ou percebia nos discos. Ouvir histórias de músicas, porque foi feita assim, porque não… E estar com eles é incrível, maravilhoso.

Em 2016, lançou o álbum de tributo a Chico Buarque "Até pensei que fosse minha", que disparou a sua popularidade no Brasil. Porquê Chico Buarque?
Porque o Chico é o compositor, o homem que conta as histórias, que escreve aquilo que escreve... E foi uma pessoa com quem tive a oportunidade de estar muitas vezes. É muito cativante, alguém que nos prende. Foi numa altura muito complicada no Rio de Janeiro. Por causa da ideologia política do Chico, ele foi muito maltratado. Achei que era a altura certa para lhe fazer uma homenagem, mostrar às pessoas que estamos a falar de Chico Buarque, não de um Chico qualquer. A gratidão, a gentileza, o respeito são coisas muito importantes.

Tem dois filhos, de nove e 20 anos. São esses os valores que lhes transmite?
Aos filhos não conseguimos impor nada, eles já têm a sua própria natureza. Mas tive muita sorte. São bons miúdos, generosos, têm bom fundo. Eles próprios é que hão-de formar--se enquanto pessoas mas acho que estão no bom caminho. Eu fico aqui a tentar ampará-los, ao lado deles, para tentar perceber para onde eles vão. 

É discreto quanto à sua vida pessoal.
Sim, sou assim e gosto de ser assim. Se fosse diferente estaria a forçar uma coisa que não seria confortável. 

O que significa para si a família?
A família é o porto de abrigo. Na família incluo os amigos. São a família que eu escolhi. É importante estar com eles, fazê-los sentir também que são importantes para mim, e poder partilhar todas as coisas boas e más que acontecem na vida. 


«Os amigos são a família que escolhi»

Tem algum cuidado especial com a voz?
Não. Tenho boa resistência. Como faço exercício físico sempre, acho que tenho boas defesas. Raramente fico doente. 


O exercício físico dá-lhe resistência. «Tenho boas defesas. Raramente fico doente»​

Quando era pequeno, jogava pingue-pongue.
Sim, pingue-pongue, basquetebol, voleibol, futebol - muito mal, mas gostava. Bicicleta também, muito.

Ainda, pratica algum desporto?
Gosto muito de andar de bicicleta e de treinar. Às vezes, juntamo-nos uns quantos e jogamos uma futebolada. Já treinei jiu jitsu, boxe. Enfim… sempre activo. 

Costuma ir a farmácias?
Não frequento habitualmente mas tenho uma farmácia fantástica ao lado da minha casa e, sempre que preciso, vou. Tenho hipertensão arterial, por isso tenho de tomar medicação todos os dias.


 

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