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1 junho 2023
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de João Lopes Vídeo de João Lopes

«Tinha saudades do teatro»

​​​​​Paulo Pires está de regresso aos palcos com uma peça sobre saúde mental na adolescência.​

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Como está a ser o regresso ao teatro, após um interregno de quatro anos, com a peça “O Filho” [em cena até 18 de junho, no Teatro Aberto]?
Estava com saudades do prazer de trabalhar um texto e também da interação com o público, sentir a respiração de uma sala inteira nos silêncios, na agitação, nos sorrisos. É esse lado muito vivo que me fascina no teatro.

Representa um pai que lida com a depressão de um filho, numa peça de Florian Zeller, que realizou “O Pai”, com Anthony Hopkins, vencedor de um Óscar em 2021.
É um espetáculo intenso, porque a história é intensa, sobre um tema atual e transversal. O adolescente atravessa um estado de depressão após o pai – a figura com quem mais se identificava – ter saído de casa, ter outra relação e outro filho. É um trabalho muito delicado. Temos o cuidado de não julgar a separação entre casais, porque as crianças sofrem com isso. Tal como o pai diz na peça, ele teve o direito de voltar a apaixonar-se, mas na cabeça deste miúdo há mais do que isso...

Há uma forte densidade psicológica. É um tema que lhe interessa, quis ser psicólogo.
Interessa-me muito, ainda na pandemia pensei estudar psicologia. Sou casado com uma psicoterapeuta, que também é professora de filosofia e modelo, e as nossas conversas em casa focam muito o lado existencialista da vida. O ator no seu quotidiano é um observador nato: compreender a personagem é a única forma de lhe dar verdade. Essa é a dificuldade real, decorar o texto é só trabalho.

Como se consegue lá chegar?
Às vezes não se consegue. Há processos diferentes, algumas pessoas são mais técnicas, outras mais intuitivas – eu sou mais intuitivo. Há atores com uma técnica tal que aquilo fica exímio e parece verdadeiramente sentido.


Rui Pedro Silva e Paulo Pires numa cena de “O Filho”, em cena até 18 de junho, no Teatro Aberto​

No seu caso, como mantém o equilíbrio emocional? 
Em “O Filho” abordamos temas como as relações familiares, fidelidade, confiança. Eu pensava que nunca me ia casar ou ter uma relação longa e afinal estou com a minha mulher há 23 anos. Acredito que a condição sine qua non para as pessoas ficarem juntas é gostarem. Quando se gosta não se dá pelo tempo.

A minha estratégia para cuidar da saúde mental é, no dia-a-dia, esclarecer as coisas que me incomodam. Não acredito que não falando, os problemas se vão embora. De mim não vão. Se não falar, um dia mais tarde vão-me fazer rebentar e o efeito à volta vai ser pior. Verbalizar as coisas que me preocupam faz-me não sofrer com elas. Se houver alguma coisa para discutir discutam-na, da forma mais ponderada possível, mas discutam-na. É o conselho que daria a um amigo.

Também participa na telenovela “Queridos papás”, na TVI. E que mais?
Ainda este ano, estreia Codex 632, uma coprodução RTP e Globo Play, baseada no livro de José Rodrigo dos Santos. Foi uma experiência fabulosa, é uma série cheia de dinamismo e aventura, com mais ação do que aquela que há dinheiro para fazer em Portugal.

Teatro, televisão ou cinema, o que prefere?
Todos se complementam e nos dão bagagem como atores, mas, se puder escolher, escolho e escolherei sempre o cinema. Sempre me fascinou, já em adolescente pensava que era um possível caminho para mim. Passava muito tempo livre na Cinemateca, no Quarteto, no King, aquele tipo de cinemas em que nem sabemos qual é o filme que vamos ver, chegamos e há sempre um filme bom.


Paulo Pires quis ser psicólogo, foi modelo internacional e fez da representação a sua vida. Ainda quer realizar um filme

Pensou estudar psicologia, desejou o cinema, fez carreira internacional como modelo.
Não foi uma carreira escolhida, foi uma oportunidade que me surgiu na vida e uma forma de ganhar independência financeira aos 20 ou 21 anos. Vivi, por curtos períodos, em Madrid, Londres, Milão, Tóquio, Viena,​ Hamburgo, Barcelona, Paris. Foi muito enriquecedor, fez-me crescer e desenrascar-me, nem telemóvel havia! Nos anos 90, em Portugal, se púnhamos um chapéu ficava tudo a olhar para nós. Em Hamburgo, o motorista do Metropolitano usava rabo-de-cavalo e um brinco. Aqui nem com a barba por fazer, quanto mais! Vou sempre estimular as minhas filhas a saírem do seu lugar e ganharem mundo.

Mas ser modelo nunca me interessou, não era o que queria fazer e eu sabia que estava ali de passagem.

Achava pouco estimulante intelectualmente?
Sim, eu queria mais. Nos desfiles de passerelle sentia um grande vazio em estar só a andar e que olhassem para mim a andar. Fazia-o cheio de preconceito comigo mesmo.

Como deu o pulo para a representação?
Comecei a fazer cinema. Em 1994 participei em “Zéfiro”, de José Álvaro de Morais, e em 1996 fui protagonista no filme de José Fonseca e Costa, “Cinco Dias, Cinco Noites”. Na sequência deste filme, dá-se uma grande mudança. A moda passou para segundo plano e a prioridade passou a ser a representação, apesar de um trabalho em moda me pagar um mês no teatro. Entre 1996 e 1997 fiz três peças de teatro, um filme, uma série e uma novela na Globo. Foi muito enriquecedor, tive a sorte de começar a trabalhar com os bons, foi “beber” de todo o lado.

Nesta altura decidi fazer o máximo de teatro, para crescer como ator. Fiz a minha formação no terreno, fiz workshops, mas nunca tive coragem de parar para estudar no conservatório ou fora de Portugal. Tive medo de perder o comboio e não voltar a apanhá-lo.

A vida estava a acontecer e quis aproveitar o momento. Tem a ver com a sua maneira de ser? 
Na profissão não faço planos a longo prazo, nunca fiz. Gosto da espontaneidade que me traz não planear. Claro que me preparo muito, seja para uma peça de teatro ou para a vida, cuido-me. Mas habituei-me a trabalhar assim e quando a minha mulher me diz para planearmos as férias do próximo ano não é fácil.

 
Ser modelo nunca foi uma paixão. «Eu sabia que estava ali de passagem»


Que sonho ainda quer concretizar?
Quero realizar um filme. Há uns anos escrevi uma curta-metragem, estava muito gira, mas eu queria algo mais impactante e não avancei, entretanto apareceram outras coisas. Conheço pessoas, e eu corro esse risco, que querem algo na vida tão bom logo à primeira que acabam por não fazer.

Disse que se cuida. A saúde é uma prioridade? 
Comecei cedo a fazer desporto. Gosto de desportos de equipa, pratiquei remo e joguei voleibol como federado, e de desportos ao ar livre, como bicicleta e canoagem. Nunca gostei de ginásios, hoje gosto um bocadinho mais, faço máquinas e pesos livres. A musculação ajuda a manter um corpo tonificado e é ótima para prevenir a osteoporose. Ajuda-me a prevenir dores e ter qualidade de vida. Na saúde gosto de prevenir. Deixei de fumar aos 37 anos, durante anos bebi pouco café, porque os meus pais eram hipertensos e eu não queria chegar a sê-lo.

Outros exemplos de saúde preventiva.
A alimentação é um tema que me interessa cada vez mais. Bebo muita água, não como trigo e evito o glúten, laticínios e carne, em casa pro​curamos comer produtos de origem biológica. Prefiro comer uma maçã a saber a maçã do que quatro que não sabem a nada. Mas não dispenso um copo de vinho ao jantar. Não sou uma pessoa que me espartilhe muito, nunca fui, em nada. Tenho muita dificuldade em resistir às coisas que me dão prazer, mas naturalmente tenho hábitos saudáveis. Prefiro o azeite e o chocolate negro a opções menos saudáveis. A Astrid [Werdnig] está muito sintonizada comigo, é mais rigorosa, muito curiosa e informada.

Tem a sua farmácia?
Tenho uma relação muito simpática com a farmácia onde vou. Peço conselhos sobre saúde, algum sintoma leve ou vitaminas para a minha filha. Tenho esse aconselhamento, as farmácias fazem isso.



 


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