Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
30 junho 2022
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista)

Xixi cama

​​​​​​​É possível resolver a chamada enurese noturna.​

Tags
A perda de urina durante a noite é um problema comum em idade pediátrica. É definida como micções involuntárias durante a noite, depois dos cinco anos de idade. Habitualmente não é acompanhada de problemas durante o dia, embora em cerca de 15% das crianças haja associação com sintomas urinários diurnos, quase sempre aumento da frequência miccional, vontade imperiosa ou incontinência.

Estudos realizados em crianças do ensino primário revelam uma prevalência de 8% a 15%, sendo duas a três vezes mais frequente em rapazes do que em raparigas. A idade é, por si só, um fator de cura espontânea: a cada ano que passa, há menos 15% de crianças com o problema. A causa da enurese continua a não ser clara, admitindo-se a presença de fatores como a hereditariedade, o ambiente psicossocial e familiar, a fisiologia do sono, os mecanismos fisiológicos de controlo das micções, a perturbação da hormona anti-diurética e da sua primordial função de diminuir a produção noturna de urina para uma melhor qualidade do sono.

A explicação para a maior frequência da patologia nos rapazes é de difícil compreensão. Admite-se atualmente que o principal fator diferenciador é a complexidade da neurofisiologia génito-urinária masculina, que tem de controlar não só a ação da bexiga, como também os mecanismos de contração/relaxamento da próstata, de dois esfíncteres uretrais e da via espermática, o que obriga a que a aprendizagem do funcionamento do sistema nervoso autónomo pélvico masculino seja mais lenta e difícil.

Os pais de uma criança enurética costumam recorrer ao médico entre os seis e os oito anos de idade, o que mostra a preocupação e desconforto que a situação determina à família e à própria criança. Nessa idade, a maioria das crianças ainda usa fraldas, molha a cama todas ou quase todas as noites, por vezes mais de uma vez. O sono profundo é uma característica referida pela maioria das famílias.

O estudo destas crianças é habitualmente limitado à realização de análise à urina e uma ecografia aos rins e bexiga, que geralmente não encontram qualquer anomalia.

Na abordagem terapêutica inicial deve ser explicado aos pais a instituição de medidas de reforço positivo, que consistem em retirar as fraldas, realizar o registo das noites secas e a sua valorização, reforçar a ingestão de líquidos durante o dia, urinar antes de deitar e ao acordar, reduzir a ingestão de líquidos nas duas horas prévias à hora de deitar e iniciar o treino vesical de espaçar as micções e interromper voluntariamente o jato urinário. E nunca recriminar ou castigar a criança.

Se o problema não melhorar, pode iniciar-se o uso de um alarme sonoro, que é ativado quando o resguardo fica húmido. É um tratamento comportamental que pode ser muito eficaz. No entanto, requer motivação e colaboração por parte da criança e dos familiares. Pode demorar dois a três meses até se conseguir um mínimo de 14 noites secas consecutivas.

Se o problema persistir, a pressão para recorrer ao médico é sobretudo exercida pela perceção de que a criança está infeliz, com autoestima diminuída e a sentir a vida social comprometida, particularmente quando começa a receber convites para dormir em casa de amigos. O tratamento medicamentoso impõe-se nessas situações. Usa-se normalmente a desmopressina oral, um análogo sintético da hormona anti diurética. O progressivo aumento do número de noites secas aumenta a motivação da criança e dos pais para o tratamento, elementos fundamentais para o sucesso terapêutico. No caso raro em que a enurese noturna é acompanhada de queixas diurnas, costuma associar-se a oxibutinina à desmopressina, geralmente com bons resultados nas queixas diurnas. Nos casos mais difíceis, a enurese pode persistir até aos dez anos de idade, mas muito raramente existe depois dos 13 anos.
Notícias relacionadas