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3 fevereiro 2022
Texto de Rita Antunes (psicóloga clínica e educacional) Texto de Rita Antunes (psicóloga clínica e educacional)

Bicho carpinteiro

​​​Não param quietos, têm dificuldade de concentração e sofrem com isso. O acompanhamento adequado promove a tranquilidade de todos.​

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«Quando os meus colegas saíram, eu fiquei na sala. A professora foi direta ao assunto: 
― És uma rapariga muito esperta, Maria, mas estou preocupada com essa tua dificuldade em prestar atenção na aula ― disse muito séria. ― Então lembrei-me de uma pequena experiência que podes fazer. Da próxima vez que começares a pensar numa coisa que não seja aquilo de que estamos a falar na aula, quero que a escrevas neste diário. […] Este exercício serve para reparares que estás distraída, quando começares a “viajar” para fora desta sala.»
in Cabeça-no-ar, Barbara Esham, 2013

A hiperatividade e défice de atenção é uma das perturbações do neurodesenvolvimento mais frequentes na infância. Geralmente, é diagnosticada nas crianças e pode prolongar-se até à idade adulta. Por ter um nome comprido usa-se a sigla PHDA, para a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.

No geral, caracteriza-se por alterações na capacidade de manter a atenção, e uma acentuada irrequietude do corpo e da mente. Associada está, igualmente, a dificuldade no controlo dos impulsos, agir sem pensar nas consequências, que de forma significativa afeta os contextos familiar, social e escolar.

As crianças saltitam de brincadeira em brincadeira, de tarefa em tarefa, e têm acentuadas dificuldades em manter os níveis de concentração necessários à concretização dos objetivos das atividades, acabando por demorar mais tempo na sua realização. 

Os primeiros sinais de alarme surgem em idade pré-escolar, especialmente nos casos de grande irrequietude psicomotora associada. O diagnóstico só é realizado em idade escolar. 

O início do primeiro ciclo de escolaridade é, por si só, bastante exigente e requer de todas as crianças uma grande capacidade de adaptação. No caso das crianças com PHDA, estes desafios são ainda maiores, uma vez que:
  • Têm dificuldade acrescida em estar sentadas durante muito tempo
  • O tempo de atenção e de concentração é mais curto
  • Têm dificuldade na organização do material
  • Apresentam maior dificuldade em seguir instruções e cumprir tarefas até ao fim
  • É-lhes difícil o planeamento das diferentes tarefas e atividades
  • Podem tornar-se mais irrequietas e agitadas do que a maioria das crianças da mesma sala de aula

As tarefas escolares são mais difíceis e demoradas para estas crianças. Pode ser também muito difícil ficar sentado quieto, só a ouvir ou esperar sem fazer nada… Outras vezes, passam os dias a correr e a brincar, sem estudar porque isso lhes parece muito difícil. Podem surgir queixas de impulsividade, uma tendência para agir sem pensar nas consequências, menor capacidade em cumprir regras e/ou em esperar pela sua vez, só para dar alguns exemplos.

Atualmente é mais fácil para os pais, educadores e professores suspeitarem deste diagnóstico. As queixas têm um impacto negativo na vida da criança, razão pela qual a atenção sobre o tema tem vindo a aumentar e a preocupar a sociedade.

O diagnóstico e tratamento precoces da PHDA são fundamentais para o seu prognóstico. Promove a redução e intensidade dos sintomas, a melhoria do rendimento académico, da integração social e da harmonia familiar. Dúvidas e preocupações devem ser partilhadas com o médico que acompanha a criança ou procurar uma consulta de especialidade (pediatra do desenvolvimento, neuropediatria ou pedopsiquiatria) e realizar uma avaliação multidisciplinar (médica e psicopedagógica).

A PHDA é uma condição clínica, mas temos de reforçar que um diagnóstico nunca se deve sobrepor à visão da criança. Isto porque “o todo é sempre maior do que a simples soma das partes”. Como tal, a abordagem terapêutica terá de ser sempre ajustada às necessidades e individualidade de cada criança, ou adolescente, reforçando as suas potencialidades.

DA TEORIA À PRÁTICA
A equipa de neurodesenvolvimento do Hospital Cuf Descobertas e Rita Antunes escreveram um livro para ajudar pais, educadores e especialistas a identificar estratégias para ajudar estas crianças e adolescentes. O livro foi escrito por uma equipa multidisciplinar e pretende ajudar todos os cuidadores de crianças com PHDA, fornecendo orientações essencialmente práticas complementares das intervenções técnicas. Acreditamos que as crianças com PHDA têm um antes e um depois, se forem bem acompanhadas.
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