No Museu do Peixe Seco, em pleno areal da praia da Nazaré, aprende-se mais do que a tradição que permitia conservar o peixe para alimentar as famílias nos meses de Inverno. De sorriso largo, as nazarenas partilham com prazer estórias das suas vidas, que ilustram a vida dos pescadores.
Rija e bem-disposta, Francelina Quinzico vem de uma família de pescadores e o marido, António, andou na pesca do bacalhau e na pesca submarina. «Tudo gente do mar», diz com orgulho. Aos nove anos já trabalhava numa loja e, para ganhar mais algum, ia para a praia mendigar aos turistas, com a sua sainha rodada. Repartia, com os pais e dez irmãos, uma casinha de pescadores que mais não era que uma cozinha comprida, duas camas em baixo e um sótão em cima. «A vida era difícil, as pessoas agora vivem chorando de barriga cheia», desabafa. Na memória traz a alegria e a liberdade das brincadeiras infantis na praia e no pátio da «cabana do pescador».
Francelina teve muitos trabalhos, foi empregada numa fábrica de bolos e até arraiolos fez para vender. Aos 21 anos, já com os dois filhos nascidos, passou a acompanhar a sogra na venda do peixe seco. «Ia às terras vender o peixe, com os costados à cabeça», explica. É a sua vida há 45 anos. Acorda às quatro ou cinco da manhã para comprar o peixe na lota, amanha-o, acarta-o em carros de mão e estende tudo no estendal. Duas vezes por semana vai vender para os mercados de Pataias e Porto de Mós. É «uma vida muito presa», que lhe deixa pouco tempo até para a família, mas não se lamenta: «se a minha mãe me tivesse deixado dez casas não tinha nada para contar», ri.