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4 maio 2023
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Duarte Almeida Vídeo de Duarte Almeida

Uma paixão pela máquina do tempo

​​​​​​O único Museu do Relógio ibérico fica em Serpa. A visita guiada é grátis.

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Um homem recebe três relógios como herança e inicia uma coleção que já vai nos 2900 relógios. A história é singular e fez nascer, em Serpa, o único Museu do Relógio da Península Ibérica, que se contam pelos dedos de uma mão no mundo inteiro. 

António Tavares d’Almeida inicia, em 1972, o hobby do colecionismo e aproveita os desenvolvimentos tecnológicos para aumentar a coleção. Nos anos 70 anda pelo país a comprar os relógios de bolso que as famílias já não queriam, nos anos 80 coleciona relógios de pulso de corda manual, então em desuso. «O meu pai andava pelas relojoarias a comprar os “monos”», resume Eugénio Tavares d’Almeida, atual diretor e conservador do Museu do Relógio de Serpa, que herdou a paixão do pai. 


Eugénio Tavares d’Almeida, atual diretor e conservador do Museu do Relógio de Serpa, que herdou a paixão do pai

A fama da coleção cresceu e, em 1995, António decide criar uma coleção permanente em parte da sua casa, um convento do século XVI, no centro histórico, que o avô tinha comprado em hasta pública. Das 46 divisões, dez servem atualmente o museu. «Além de partilhar a sua paixão pelo colecionismo, deu a Serpa e ao Alentejo mais um cartão de visita cultural», explica o filho. Em 2011, quando houve a oportunidade de abrir um novo polo, o desejo de «manter a identidade alentejana» levou à escolha do Palácio Barrocal, em plena Praça do Giraldo, em Évora. Há ainda exposições temporárias, como a que decorre na cidadela de Cascais, de 27 de maio até 1​0 de setembro. 

Aos 2900 relógios expostos acrescem 400 em arquivo, por vezes usados em exposições temáticas ou cedidos para espetáculos. Há relógios de todas as épocas, tipos e classes sociais, «do pastor ao imperador», todos mecânicos, ou seja, «pensados e manufaturados por um outro ser humano». Acresce uma oficina de restauro, que serve o museu e outros clientes e é uma importante fonte de receitas. 


Relógio usado nos coches, que servia para medir o tempo cobrado pela viagem. É o antepassado dos taxímetros

Na visita guiada grátis, conduzida com entusiasmo por Eugénio Tavares d’Almeida, é possível conhecer as histórias por detrás de cada peça. Os relógios Roskoph, de fraca precisão, porque baratos, que dera​m origem ao termo depreciativo ainda hoje usado. O «primeiro relógio que foi à lua», o Omega Speed Master, de 1969, usado por Neil Armstrong. Um relógio de bolso gigante, «que as pessoas acham que era de um palhaço», usado nos coches, suficientemente grande para que o cocheiro e os passageiros pudessem confirmar o tempo cobrado pela viagem. «Aos coches vieram a chamar-se táxis e aos relógios taxímetros», conta Eugénio. 

​​Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, os padres escondiam as hóstias nestas caixas que pareciam ser relógios comuns

Outra peça curiosa é uma caixinha de hóstias em forma de relógio, sem máquina lá dentro, usada para os padres transportarem clandestinamente as hóstias quando iam dar missas privadas nas capelas de famílias abastadas, proibidas devido à extinção das ordens religiosas, em 18​34. Lá está também o chamado “modelo Salazar”, replicado por 14 mil exemplares com que o governante mandou equipar as instituições públicas de todo o Portugal, para controlar os horários de trabalho dos funcionários. Numa das salas abobadadas de paredes largas, encontramos mais de 20 relógios napoleónicos, «verdadeiras obras de arte». Como prova do engenho humano, o museu expõe um relógio persa com mil anos, que mais não é do que uma vela de cera, com uma escala horária, e um relógio de azeite, que mede o tempo pelo mesmo processo: o tempo que o combustível demorava a queimar. 

Seguindo os passos do pai, Eugénio Tavares d’Almeida continua a fazer crescer a coleção. Há doações todas as semanas, de pessoas que desejam ver bem conservados antigos objetos de família. Mas, ao contrário do pai, que colecionava relógios como se de uma missão de salvamento se tratasse, Eugénio só procura relógios com histórias diferenciadoras. «As pessoas ficam fascinadas não é pelo relógio ter ouro ou diamantes, estar sujo ou ser velho. São as histórias que tornam estes relógios especiais».

 

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