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10 julho 2020
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Um palmo e meio de alegria

​​​​​​​​Pandemia tornou mais fácil a vida de Rita, uma criança maravilhosa que precisa de hormona do crescimento.

​Rita Sequeira é a alegria da casa. No quintal da moderna vivenda, com vista para a serra algarvia e o mar, anda numa algazarra entre a bicicleta e a piscina. Pequenita, corpo esguio, os olhos negros e vivos brilham no rosto emoldurado pela cabeleira abundante. O cabelo está mais rebelde depois de quase três meses de confinamento, explica a mãe, Daniela. Rita tem dez anos e sofre de défice de crescimento, mas o que lhe falta em tamanho sobra-lhe em alegria de viver. Toda ela é desembaraço, a timidez não encontra ali lugar. «Quando for grande gostava mesmo, mesmo, mesmo, de ser ginasta». A voz sai-lhe despachada, com um leve sotaque algarvio.


Daniela e José foram pais aos 40 anos, o que fez de Rita uma criança ainda mais desejada

Foi uma criança muito desejada. Nasceu quando os pais já tinham chegado aos 40. É filha, neta e sobrinha única. Cresceu apaparicada, tratada como «um bibellô». A sombra da morte rondou-a durante os primeiros meses de vida. Mas ela deu-lhe a volta, num salto gracioso de atleta de alta competição. «É cheia de vida, uma lutadora. Mesmo dentro da incubadora era de uma enorme persistência pela vida». Daniela e o pai, José, olham hoje com orgulho os momentos difíceis enfrentados há dez anos.

​Rita nasceu às 27 semanas, com pouco mais de 900 gramas. A mãe chamava-lhe «quilinho de açúcar». A prematuridade trouxe complicações. Durante 127 dias esteve internada no serviço de neonatologia do Hospital de Faro. Os pais viviam com o coração nas mãos. Mal chegavam ao quinto piso corriam a ver o dossiê da menina, para avaliar o aumento de peso.

Com seis meses, foi operada a uma cardiopatia, em Lisboa. Aos cinco anos, nova operação, ao estrabismo. A criança já passou por três anestesias gerais. Fez fisioterapia durante dois anos, para recuperar do atrofiamento muscular.

Começou tarde a gatinhar e andar, mas na linguagem foi precoce. Rita nunca teve qualquer dificuldade intelectual. Quando os pais hesitaram em inscrevê-la no primeiro ciclo, por ser tão pequena, o pediatra fez-lhe testes psicotécnicos e concluiu: «Não vejo por que deve ficar retida no infantário. É para a escola que tem de ir». Foi e continua, com sucesso. Aquele palmo de gente com 1,20 metros e 20 quilos está no quinto ano. Contra a sua vontade e com a promessa de que seria apenas «por um ano», acedeu a usar um trólei para carregar os livros. Na escola, «é razoável», diz a mãe. «Podia ser melhor, mas faz tudo a despachar».


Na vivenda com vista para a serra e o mar, faz o que mais gosta: dançar, brincar e tomar banhos na piscina de borracha

O pior já passou. O desafio agora é recuperar o défice de crescimento. Rita é seguida há quatro anos no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Em Setembro de 2018 começou a tomar uma hormona do​ crescimento injectável. Os pais estão contentes. «Vê-se a evolução», garante José Sequeira. O tratamento é de longo prazo, terminará quando Rita atingir o estado adulto. Os pais desesperaram quando souberam que lhes cabia a eles percorrer mensalmente os quase 600 quilómetros entre São Brás de Alportel e Lisboa, ida e volta, para levantar a medicação. Há ano e meio que o fazem. «Não tem cabimento, parece uma coisa de um país do Terceiro Mundo», indigna-se Daniela. É um dia de trabalho perdido, mais os custos com a alimentação, a viagem de comboio e os táxis. «200 euros, fora o cansaço e a maçada», estimam. Já aconteceu levarem quatro receitas e só conseguirem aviar uma caixa, que dá para 20 dias, por insuficiência de stock.


«Quando for grande gostava mesmo, mesmo, mesmo, de ser ginasta», diz Rita

Nesta altura de pandemia, os pais chegaram a equacionar interromper a medicação. «Não tínhamos condições para ir a Lisboa». Não couberam em si de contentes quando souberam da nova legislação que, desde 19 de Março, tornou possível a dispensa de medicamentos hospitalares através da farmácia comunitária, como forma de prevenir o risco de infecção pelo novo coronavírus. Já por duas vezes Daniela levantou a medicação para a filha na Farmácia São Brás, a menos de um quilómetro da Santa Casa da Misericórdia, onde trabalha como técnica administrativa. «Ainda me parece um sonho, uma utopia! Estou contentíssima, só espero que continue. Por nós e por todas as pessoas no país com situações idênticas», sorri Daniela.

 



OPERAÇÃO LUZ VERDE
Dispensa de medicamentos hospitalares nas farmácias

CADA DOENTE POUPA 100 KM​
Em média, um doente percorria 102 quilómetros para levantar a medicação no hospital.

31 VOLTAS À TERRA
Os 13.000 doentes beneficiados pouparam 1.267.716 Km de deslocações, o equivalente a 31,6 voltas ao mundo.

Como posso levantar os medicamentos hospitalares na minha farmácia? 
1.
  • Contacta o seu hospital
  • Liga para a Linha 1400
  • Contacta a sua Associação de Doentes

2.

  • O hospital prepara a medicação e assegura o envio para a farmácia escolhida por si

3.

  • Recebe uma chamada da farmácia a informar que a medicação chegou

4.

  • Vai levantar na farmácia ou pede para lhe ser entregue em casa.

FARMÁCIAS CONTINUAM DISPONÍVEIS

A Operação Luz Verde foi uma iniciativa das Ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, com o apoio das farmácias, distribuidores de medicamentos e indústria farmacêutica. Ao todo, 2.923 farmácias prestaram o serviço gratuitamente. A operação logística foi suportada pelos distribuidores e pelo Fundo de Emergência Abem. A Associação Nacional das Farmácias manifestou aos hospitais disponibilidade para continuar a resolver os problemas dos doentes até à avaliação do valor e a contratualização do serviço.
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