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2 agosto 2019
Texto de Carlos Enes Texto de Carlos Enes

Tratamentos interrompidos

​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​Indisponibilidade de medicamentos afectou 3,4 milhões de portugueses no último ano.​

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A falta de medicamentos nunca afectou tanto os portugueses. No último ano, 3,4 milhões enfrentaram o problema. O mais grave é que 371 mil foram forçados a interromper a terapêutica prescrita pelos médicos. Este é o principal resultado de uma sondagem realizada aos utentes das farmácias pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR). Participaram no inquérito, realizado na primeira semana de Abril, 2.097 farmácias. 

No top 20 dos medicamentos cuja indisponibilidade provocou a interrupção dos tratamentos encontramos fármacos para diversas doenças crónicas. Diabéticos, asmáticos, portadores de doença pulmonar obstrutiva crónica e hipertensos declararam ter interrompido tratamentos devido às falhas de mercado. Muito doentes ficaram também mais expostos a episódios de enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral.

Mais de metade dos medicamentos identificados com indisponibilidade não integram qualquer grupo homogéneo. Ou seja, não têm genéricos ou outras alternativas com igual composição, que as farmácias possam propor. Nesses casos, a única solução do doente é recorrer novamente a uma consulta médica para alterar a prescrição.



No último ano, as indisponibilidades de mercado forçaram 1,4 milhões de consultas médicas só para alteração da prescrição. Como é evidente, este facto afecta a capacidade de resposta do SNS e as listas de espera. Do ponto de vista económico, as consultas de repetição tiveram um custo estimado entre 35,3 e 43,8 milhões de euros para o SNS e outros subsistemas e seguradoras. A variação deste indicador deve-se à impossibilidade de determinar com exactidão quantas dessas consultas foram presenciais.

O custo directo para os utentes das consultas forçadas pela necessidade de alteração da prescrição situou-se entre 2,1 e 4,4 milhões de euros por ano. Este resultado decorre da ponderação de uma estimativa de consultas presenciais, assim como dos utentes que pagam taxas moderadoras (60 a 70 por cento).

Para além dos danos na relação com os seus clientes, as farmácias sofrem um impacto económico directo significativo. O estudo do CEFAR apurou que cada colaborador perde, em média, mais de cinco horas por semana a tentar resolver problemas relacionados com a falta de medicamentos, o que representa um custo para a farmácia de 9.940€ por mês.

As estimativas populacionais usadas neste censo foram calculadas com base nos dados de 2017 do Instituto Nacional de Estatística relativos à população residente. Estimou-se que 95% da população adulta foi pelo menos uma vez à farmácia ao longo do último ano. Portanto, a base do estudo foi de apenas 6,6 milhões de pessoas. «Usámos deliberadamente estimativas conservadoras na realização deste censo», declara António Teixeira Rodrigues, director do CEFAR. O estudo será repetido no próximo mês de Setembro.​

Medicamentos em falta que provocaram interrupção do tratamento
Top 20 (Principais indicações terapêuticas)

LASIX (doenças cardiovasculares, hepática e renal)
ASPIRINA GR 100MG* (doenças cardiovasculares)
TRAJENTA* (diabetes tipo 2)
SINEMET 25/100* (doença de Parkinson) 
ADALAT CR 60MG (hipertensão) 
STAGID* (diabetes tipo 1 e tipo 2) 
ADALAT CR 30MG (doença cardíaca, hipertensão) 
TRULICITY* (diabetes tipo 2) 
DAROB (taquiarritmias) 
XARELTO* (prevenção do AVC, prevenção e tratamento de doenças tromboembólicas) 
INDERAL* (hipertensão, ansiedade, enxaqueca, doenças cardíacas e outras)
ATROVENT UNIDOSE (asma)
ALDACTAZINE* (hipertensão, doenças cardíacas, doença hepática, doença renal) 
SINEMET* (doença de Parkinson) 
HIDROCORTISONA ROUSSEL* (doenças endócrinas)
TRIPLIXAM* (hipertensão) 
SPIRIVA RESPIMAT* (doença pulmonar obstrutiva crónica, asma) 
TRIAPIN* (hipertensão) 
ATROVENT PA* (doença pulmonar obstrutiva crónica, asma) 
SPIRIVA* (doença pulmonar obstrutiva crónica)

Novo e triste recorde

Faltas de medicamentos dispararam no primeiro semestre.

As faltas de medicamentos atingiram no primeiro semestre deste ano um máximo histórico. As farmácias reportaram a indisponibilidade de 46,9 milhões de embalagens até 30 de Junho. No mesmo período de 2018, tinham reportado 27,5 milhões de embalagens em falta. Este indicador registou assim um agravamento de 70,6%. 


Só no mês de Junho foram reportadas 9,3 milhões de  indisponibilidades de embalagens, por parte de 2.009 farmácias. A manter-se esta tendência, em Agosto já terá sido ultrapassado o número total de medicamentos indisponíveis registado no ano passado. Com mais de 64 embalagens em falta, 2018 já tinha sido o pior ano de sempre. Se até ao final do ano não se verificar uma súbita e abrupta inversão desta tendência, a falta de medicamentos em Portugal vai registar um novo recorde em 2019.​
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