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4 setembro 2025
Texto de Marta José Santos | WL Partners Texto de Marta José Santos | WL Partners Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Duarte Almeida Vídeo de Duarte Almeida

«Tenho a sorte de ser muito otimista»

​​​Com uma vida dedicada ao serviço público e à defesa da saúde em Portugal, Maria de Belém Roseira é um exemplo de autenticidade e energia. 

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Quando foi ministra da Saúde, foi difícil cuidar da sua própria saúde?

Nunca abandonei os meus bons hábitos, mas claro que as preocupações eram muitas. A agenda era tão intensa que, às vezes, à tarde, parecia que o que tinha feito de manhã tinha acontecido no dia anterior. Era como encaixar 48 horas em 24.

A vida de um governante é muito exigente, ainda mais hoje, com uma agenda nacional e internacional acumuladas. Exige uma enorme capacidade de organização e gestão de tempo.


A política é uma profissão saudável?

É uma profissão muito pouco saudável. Gera muita tensão, stresse e, frequentemente, injustiça. Hoje, tudo tem uma dimensão pública enorme, o que torna a vida política muito dura. E quando se está na política com verdade, honestidade e vontade de fazer bem, é ainda mais ingrata, mas alguém tem de o fazer. Nunca procurei cargos políticos, aconteceram, e dei sempre o melhor de mim.



Foi ministra da Saúde de 1995 a 1999 e ministra para a Igualdade entre 1999 e 2000


Vale a pena?

Vale. Deixei muita coisa feita e bem feita. É triste ver algumas dessas conquistas destruídas, mas os portugueses são assim. Ainda vão demorar a aprender a fazer diferente.


Como cuida da sua saúde mental?

Tenho a sorte de ser muito otimista. Não quer dizer que não tenha momentos tristes, mas não me deixo abater. Quando algo corre mal, penso sempre que dali a algum tempo já não vai ter importância. Isso ajuda muito, o abatimento não resolve nada.


Se pudesse voltar atrás, faria algo diferente na forma como cuidou da sua saúde?

Talvez nunca tivesse fumado. Talvez tivesse sido mais disciplinada com a ginástica. E provavelmente teria imposto a mim própria férias a sério. Durante muitos anos, nunca tirei mais do que uma ou duas semanas por ano. Isso também afeta quem está à nossa volta.


Que cuidados de saúde tem com uma agenda tão preenchida?

Tento dormir o mínimo necessário e faço sempre um pouco de ginástica logo de manhã, algo simples, mas que ajuda a despertar o corpo. Tomo sempre o pequeno-almoço com fruta, iogurte, cereais, os meus comprimidos e um café, que é a minha dose diária. Para mim, é a refeição mais importante do dia.

Depois, vivo com algum stresse porque estou sempre a encaixar compromissos uns nos outros.



A ex-ministra da Saúde reserva sempre tempo para a família, uma prioridade na sua vida


Sempre teve cuidado com a saúde ou foi algo que surgiu com o tempo?

Passei por fases. Durante algum tempo fumei, mas quando percebi que me fazia mal, deixei de fumar. Não se sabia na altura quão prejudicial era. Nunca fui de grandes excessos e há coisas que nem aprecio, como o álcool, que bebo muito raramente. Tento andar a pé sempre que posso e gosto muito de dançar, o que também faz bem.

No fundo, é adaptar os hábitos saudáveis àquilo de que gostamos, para que façam parte da nossa vida sem ser um peso.


Qual é o conselho que dá às mulheres para chegar aos 76 anos com energia?

Talvez fazerem como eu: não dar demasiada importância ao envelhecimento, mas dar alguma. Ter hábitos de autocuidado, não exagerados, mas que lhes permitam viver com equilíbrio e harmonia. A estética também é importante para o bem-estar. Tento que aquilo que gosto para mim se reflita no que ofereço aos outros.


Houve muitas mudanças nos cuidados de saúde em Portugal?

Claro. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi uma transformação enorme. Portugal era um país profundamente atrasado: analfabetismo, pobreza, falta de saneamento, água potável ou casas com condições básicas. Os nossos indica- dores de saúde eram péssimos.

Hoje, melhorámos imenso naquilo que depende do sistema de saúde, mas continuamos frágeis nas determinantes sociais. A falta de literacia, a pobreza, a precariedade no trabalho e a crise na habitação continuam a afetar muito a saúde, sobretudo a mental.

É preciso mudar a forma como abordamos estes problemas. O grande desafio do século XXI é garantir condições de vida dignas. Se não o fizermos, teremos uma população envelhecida com múltiplas doenças crónicas e uma pressão enorme sobre o SNS. A saúde tem de estar presente em todas as políticas.



É licenciada em Direito pela Univ​ersidade de Coimbra


E as farmácias? Que papel têm nesse cenário? As farmácias são essenciais. São uma rede descentralizada e, muitas vezes, o único equipamento de saúde em certas zonas.

Durante o meu tempo como ministra, sempre que pedi algo às farmácias, recebi um “sim”. Têm uma cultura de resposta e de compromisso que devia servir de exemplo a outras áreas. Desde a distribuição de seringas e preservativos na luta contra o VIH, até à entrega de medicamentos ao domicílio, demonstraram uma enorme capacidade de adaptação e responsabilidade social.


Costuma fazer check-ups regularmente?

Não sou grande admiradora dos check-ups. Podem ser úteis em certas populações, mas generalizá-los a toda a gente parece-me ineficiente. Já os rastreios populacionais para algumas doenças têm eficácia comprovada, permitem diagnósticos mais precoces e melhores resultados nos tratamentos. Também nesta área as farmácias podem contribuir.


E quanto à alimentação? Tem regras rígidas ou é uma questão de equilíbrio?

Acho que viver obcecado com o que se come ou não se come deve ser um tormento. A minha regra é simples: comer de tudo, mas pouco. Não abuso de nada e tento manter o equilíbrio. Cada pessoa tem de encontrar o que funciona consigo.


Qual é o segredo para envelhecer bem?

Envelhecer bem é envelhecer bem-disposto. Ter energia, manter uma atitude positiva. Sempre procurei viver assim.


Há outros hábitos que recomenda para envelhecer bem?

O convívio é fundamental. Cada vez mais se confirma a importância das redes sociais de apoio. É essencial termos pessoas com quem nos identificamos, com quem possamos sair, conversar, fazer coisas em conjunto.

O convívio ajuda-nos a manter a mobilidade, o raciocínio, a capacidade de argumentar e pensar criticamente. A mente também precisa de exercício.


Também acredita que a saúde mental beneficia com isso?

Sem dúvida. E, além disso, ter rotinas e alguma disciplina é muito importante. Vi muitas pessoas entrarem rapidamente em regressão intelectual quando deixaram de trabalhar de repente. O trabalho, mesmo que regrado, ajuda a manter a mente ativa.​