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19 março 2018
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Anabela Trindade Fotografia de Anabela Trindade

SAFE é seguro

​​Projecto-piloto está a funcionar em Bragança.

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Avenida Abade de Baçal, Hospital de Bragança. 22h40. Temperatura exterior: zero graus Celsius.
Rita Padrão, 75 anos, mulher de estatura baixa, caminha vagarosamente. O rosto pálido — e também as mãos — não deixam margem para enganos: o corpo de Rita cedeu.

«Tive de trazer a minha mãe à urgência pois ela estava com uma indisposição forte». António Exposto, de 52 anos, filho da septuagenária, traz nervosismo e pressa na fala. Não vê a hora de ter em mãos a medicação certa para a mãe.

Com a receita médica em cima da secretária, Tiago Ceriz, 33 anos, médico, explica a António como adquirir a terapêutica beneficiando do novo Serviço Nacional de Assistência Farmacêutica (SAFE). «Vai ligar para a linha 800 24 1400, que é gratuita, e dizer se prefere levantar a medicação que lhe receitei na farmácia de serviço ou recebê-la esta noite em casa».

António continua apressado e só pensa no bem-estar da mãe. Liga 800 24 1400 e pede uma entrega ao domicílio. A chamada é recebida a 500 quilómetros dali, no centro de atendimento especializado, composto por 22 farmacêuticos, instalado na sede da Associação Nacional das Farmácias (ANF), em Lisboa. Todos os pormenores são agilizados em minutos. 



«Graças a este telefonema, vou poder levar a minha mãe já para casa, sem me preocupar se o medicamento prescrito existe ou não na farmácia», afirma António Exposto à saída das urgências, pelas 22h56.

Por essa hora, na Farmácia Central, António Morais, de 61 anos, processa a encomenda. Dentro de minutos, vai ser ele a contactar o utente, para o informar da posologia e forma de administração dos medicamentos, bem como averiguar acerca de eventuais interacções medicamentosas. O filho e cuidador de Rita Padrão é convidado a voltar a contactar a farmácia caso surja qualquer dúvida após a entrega. «Este é um projecto que ajuda o utente e permite que a terapêutica não seja interrompida», defende o técnico de farmácia, ainda com a informação científica sobre os medicamentos prescritos à septuagenária visível no computador.

23h10. Ao volante de um veículo com identificação SAFE, Carlos Mendes, 27 anos, contorna nova rotunda. É ele o estafeta de serviço. Está em Bragança, mas entrega medicamentos em qualquer ponto dos 6.608 km² do distrito. Já foi a Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Torre de Dona Chama, Mogadouro e Alfândega da Fé.

O SAFE tem como grande objectivo acabar com as desigualdades territoriais no acesso a medicamentos urgentes.

O distrito de Bragança foi escolhido para receber o primeiro projecto-piloto precisamente por apresentar elevada dispersão populacional. Aqui, o serviço tem de responder às necessidades de 136 mil pessoas, que vivem em 226 freguesias.

Carlos Mendes fica de vigília das 21h00 às 09h00 do dia seguinte, mas não é activado todos os dias. Desde o arranque do projecto-piloto, fez 13 entregas domiciliárias em 46 noites de serviço. Este antigo militar conta que é com «muito orgulho» que veste a camisola SAFE. «Realiza-me saber que facilito a vida a muita gente, principalmente a idosos que não têm outra forma de mobilidade».

23h20. António Exposto abre a porta de casa e recebe em mãos a medicação prescrita. «É muito importante para nós ter este serviço. É um grande apoio, numa região onde existem muitos idosos».

Para Tiago Ceriz, interno de Especialidade de Medicina Interna, o SAFE significa mudança e inovação. «Antes, se a Farmácia que estava de serviço não tinha o medicamento disponível, o doente tinha de esperar pelo dia seguinte, ou seja, adiar o tratamento de uma situação urgente. Agora, com apenas uma chamada, o medicamento é automaticamente disponibilizado e o doente inicia o tratamento».

Pedro Miguel Gonçalves, 24 anos, contorce-se com tosse. Uma infecção respiratória trouxe-o até às urgências do Hospital de Bragança. Paciente polimedicado, efectua a chamada para a Linha SAFE, optando por levantar a medicação prescrita na farmácia de serviço. «Prefiro passar lá de carro e trazer logo os medicamentos», justifica Isabel Gonçalves, 48 anos, mãe de Pedro Miguel.
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